Foto: Divulgação
Conheça o formato sustentável adotado pela startup Manioca no Pará que valoriza a culinária da Amazônia, a agricultura familiar e gera renda para o Pará.
Por Beatriz Manarte
O sol ainda nem apareceu e ele já está de pé e com as mãos na produção da farinha flocada de onde tira o sustento de sua família. Maurício da Silva, desde os seus 20 anos, tem a mesma rotina. Agricultor por vocação, ele herdou do pai a profissão que faz parte de um nicho bastante conhecido no Brasil: a agricultura familiar.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a produção da agricultura familiar está presente em 42% dos estabelecimentos de comercialização agrícola no país. Ela é responsável por fornecer 70% dos produtos consumidos nos lares brasileiros.
Com uma produção semanal de 50 sacas de farinha de mandioca, Maurício conquistou seu primeiro cliente, o restaurante “Lá em Casa”. Começou ali uma parceria de sucesso que renderia bons frutos ao pequeno agricultor. “O restaurante me abriu portas para atender hoje uma outra empresa, a Manioca. Há exatamente seis anos eu me comprometi em entregar um produto de qualidade que hoje chega aos lares brasileiros e até em outros países”, conta, orgulhoso.
A Manioca surgiu em 2014, com o intuito de valorizar os ingredientes da Amazônia. Comandada pelos sócios Joanna Martins e Paulo Reis, a startup tem uma história interessante. De acordo com Joanna Martins, o negócio nasceu de uma história de família. Seu pai, o Chef Paulo Martins, foi um grande divulgador da cozinha paraense. Sob o seu comando, o restaurante “Lá em Casa” passou a comercializar, além das iguarias paraenses, os produtos regionais que caíram no gosto dos turistas e dos chefs de cozinha por todo o Brasil.
Foi desta história de família que Maurício da Silva passou de produtor de farinha flocada para fornecedor de uma importante startup paraense. “Seria bom se houvessem mais empresas que investissem nos pequenos produtores da agricultura familiar”, compartilhou.
Um modelo de negócio que valoriza o pequeno produtor
Se um dos objetivos da Manioca é valorizar a cultura regional para o mundo, o outro é auxiliar no crescimento dos produtores locais. “Nosso propósito é tornar acessível os sabores da Amazônia ao mundo de forma gostosa, prática e saudável; aproximar a Amazônia das pessoas, através do paladar; fazer com que o mundo conheça nossos insumos, produzidos pelo agricultor local com o sabor que conhecemos; e gerar desenvolvimento para a nossa região”, afirmou Joanna Martins.
Pelo visto, o objetivo tem sido alcançado com sucesso. No processo de produção dos alimentos comercializados, a startup conta com o trabalho de mais de 40 famílias de municípios paraenses como: Santa Bárbara, Santa Isabel, Bragança, Augusto Corrêa, Santo Antônio do Tauá e Cametá.
Além da utilização da mão de obra agrícola, a Manioca desenvolveu um projeto para dar assistência aos pequenos produtores. “O que fizemos foi criar o programa Raízes. Esse programa tem três objetivo: gerar renda, assistência técnica (a profissionalização da atividade dessas pessoas) e exigir a proteção florestal da área onde elas trabalham”, explicou Paulo Reis, sócio na startup.
Grandes investimentos norteiam o sucesso da Startup
Para fortalecer o novo negócio foi necessário investimento. Beneficiada em duas rodadas de investimentos promovidas pelo Programa de Aceleração da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), que se transformou na aceleradora de impacto AMAZ e recebe recursos do Fundo Vale, a Manioca conseguiu expandir seu mercado e alcançar mais regiões com seus produtos.
Para o Secretário Executivo da PPA, Augusto Corrêa, a startup se destaca por ter produtos genuinamente brasileiros. “Eles conseguiram trazer um valor agregado do produto que não era trivial. Então, trouxeram um olhar de valor e um olhar capaz de entender a capacidade potencial dessa iguaria brasileira (a mandioca), a ponto de conseguir transformar em produtos de alta gastronomia”, explicou Augusto Corrêa.
A Gestora de Seleção e Aceleração do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (IDESAM), organização administradora da AMAZ, Ana Carolina Bastida, revela que os investimentos aplicados pela Manioca trazem diversos benefícios para a região. “É uma gama de negócios em um mesmo modelo. Não é algo periférico ao negócio, mas no seu próprio centro. Eles geram um impacto que tem como foco a preservação de hectares de florestas e, por outro lado, a geração de renda e qualidade de vida para as comunidades rurais e ribeirinhas da Amazônia”, afirmou.
Com os novos recursos, a Manioca ampliou a distribuição de seus produtos e a capacitação de fornecedores de insumos amazônicos. Com o início no e-commerce, a Startup já está em vários países. “Estamos preocupados em levar os nossos ingredientes para além dos muros do Brasil e buscamos uma maneira fácil e prática para que o consumidor de outros países os absorva rapidamente. Nossa preocupação vai desde a comunicação até a maneira que apresentamos este produto ao consumidor estrangeiro”, explicou Paulo Reis
Sempre buscando inovar para ampliar seu mercado, a Manioca participou em 2020 da campanha “Amazônia em Casa, Floresta em Pé”. A iniciativa foi desenvolvida pelo Instituto Climate Ventures em parceria com a PPA, e também contou com o apoio do Fundo Vale. “A partir de uma parceria com o Mercado Livre e o envolvimento de influenciadores digitais da área da gastronomia, como a Bela Gil, foi possível aumentar as vendas da Manioca e de outros negócios que valorizam a Amazônia. Mesmo num ano crítico, onde a pandemia trouxe impactos econômicos desastrosos sobre esses negócios”, conta Márcia Soares, Líder de Parcerias e Redes do Fundo Vale.
Hoje, a startup trabalha com diversos produtos da região Amazônica, como a geleia de pimenta-de-cheiro, o molho de tucupi preto, o doce de cupuaçu, o licor de flor de jambu, entre outros. Todos eles produzidos pelo pequeno produtor, respeitando a biodiversidade amazônica, preservando o sabor da culinária local e gerando renda para as famílias da Amazônia.