O Brasil já se orgulhou de estar na vanguarda das tecnologias eleitorais. Quando, pela primeira vez, um terço dos eleitores do país escolheu os candidatos por meio da urna eletrônica, em 1996, a novidade do sistema de votação informatizado se tornou notícia no mundo. Naquele tempo, poucos brasileiros tinham familiaridade com o computador e a internet comercial sequer tinha chegado ao Brasil.
Depois de 22 anos, não é preciso ser um especialista para imaginar quantas novas tecnologias já foram desenvolvidas a fim de aprimorar a segurança – física e digital – dos processos eleitorais em todo mundo. Mas será que o Brasil continua na vanguarda da área sendo o único país em que os votos são registrados apenas eletronicamente?
A voz dos pesquisadores
Para o professor Mário Gazziro, pós-doutorando do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, resistir à implantação do voto impresso deixa o país parado no tempo. “Por que o registro em papel é um avanço? Porque é a única forma de garantir que os votos sejam auditados caso haja algum problema no registro eletrônico”, explica Mário, que faz parte de um grupo de cientistas brasileiros que pesquisa tecnologias eleitorais.
Se você acredita que essa discussão sobre a necessidade do voto impresso é recente e só veio à tona nas vésperas das eleições de 2018, caiu em mais uma notícia falsa. No meio científico, o debate sobre a segurança das urnas existe desde 1996 e ganhou força a partir da realização dos testes públicos de segurança e da realização de eventos que acontecem desde 2013, quando Gazziro organizou o 1º Fórum Nacional de Segurança em Urnas Eletrônicas no ICMC . Desde aquele momento, os cientistas alertam para as diversas vulnerabilidades encontradas no sistema eleitoral brasileiro.
“Não estou dizendo que a urna já foi fraudada. Durante todos esses anos eu nunca vi provas convincentes deste tipo de fraude no Brasil, o que não quer dizer que não houve. Este é exatamente o problema: a urna sofre de uma falta de transparência muito séria. É tão mal concebida que a sua segurança não pode ser comprovada”, escreve o professor Jeroen van de Graaf, do departamento de Computação da Universidade Federal de Minas Gerais, no livro O mito da urna eletrônica – desvendando a (in)segurança da urna eletrônica.
Por Jornal da USP
Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil