Mercado compra 85% das licenças em leilão do 5G no país, aponta Anatel

Foto: REUTERS/Eric Gaillard

GONÇALVES (MG) – O mercado comprou cerca de 85% das licenças para uso das faixas de radiofrequência no leilão do 5G da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), realizado entre esta quinta (4) e sexta-feira (5).

O resultado do certame, classificado pela agência como o maior da América Latina e o segundo do Brasil (só perde para o do Pré-Sal), foi divulgado em coletiva à imprensa na tarde de hoje após o término da licitação.

O leilão terminou com um valor econômico total de R$ 46,79 bilhões, segundo informou a Anatel. Para exaltar os negócios concretizados, o ministro Fábio Faria, das Comunicações, comparou as ofertas recebidas pelo 5G a valores de outros leilões.

Mas sem um detalhe: os números não foram corrigidos pela inflação. “O leilão do 3G foi de R$ 7 bilhões, do 4G, de R$ 12 bilhões, e da privatização da Telebras, de R$ 22 bilhões. Todos somados, não chegam no leilão do 5G”, disse Faria.

O ágio médio (valor adicional ao mínimo que era exigido no edital) sobre o mínimo das faixas ofertadas atingiu 218%, índice considerado de sucesso para o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Faria também disse aos jornalistas que o certame colocou à venda R$ 42 bilhões e arrecadou R$ 46,79 bilhões, um ágio de quase R$ 5 bilhões. “Algo em torno de R$ 7 bilhões ou R$ 8 bilhões podem ser comercializados em breve”, afirmou o titular da pasta se referindo às sobras de espectro que não atraíram interessados nesta edição do leilão.

A faixa de 26 GHz, leiloada nesta sexta, foi a que mais apresentou “desertos” de propostas. Segundo Faria, em um momento oportuno, as “sobras” do certame servirão para “um novo leilão nos mesmos termos de preço e obrigação estabelecidos junto ao TCU [Tribunal de Contas da União]”.

O desempenho da frequência de 26 GHz causou preocupação porque rendeu R$ 3,1 bilhões para as empresas investirem na conexão das escolas públicas brasileiras à internet como contrapartida pela exploração da faixa. Caso todos os lotes fossem arrematados, o valor arrecadado saltaria para R$ 7,6 bilhões.

Abraão Balbino, presidente da Comissão Especial de Licitação da Anatel, afirmou que, diferentemente das demais obrigações previstas no edital do leilão, o valor que será destinado ao programa de infraestrutura de rede nas unidades de ensino “não está definido”.

“Esta será uma política pública que ainda será criada entre a Anatel e o Ministério da Educação. É preciso dizer que o edital está garantindo R$ 3,1 bilhões para a cobertura das escolas”, disse.

Abraão também salientou que já era previsto baixa oferta na 26 GHz, “mas a colocamos para sentir o que havia de concreto na nossa hipótese”. “E o principal foi, a partir dela, propiciar a entrada de duas novas empresas no mercado de prestação de serviços móveis”, afirmou.

A Fly Link LTDA e a Neko Serviços de Comunicações, Entretenimento e Educação LTDA conquistaram esse status após a compra de lotes de 200 MHz da faixa de 26 GHz nesta sexta. Elas se juntam aos provedores Cloud2U, Winity, Consórcio 5G Sul e Brisanet que tinham garantido parcela desse mercado na primeira parte do leilão.

O controle das frequências de abrangência nacional por onde o 5G vai percorrer no país ficou com as grandes teles. Já as de âmbito regional terão uma participação importante dos provedores de internet.

Claro, Telefônica, dona da marca Vivo (VIVT3), e TIM (TIMS3) vão operar na faixa de 3,5 GHZ. As três gigantes do mercado atingiram o limite de aquisição da faixa, que é de 100 MHz.

A Claro desembolsou cerca de R$ 418 milhões; a Vivo, pouco mais de R$ 500 milhões; e a TIM, R$ 431 milhões, só para terem o total máximo previsto da “estrada mais cobiçada” para o 5G em âmbito nacional.

As empresas terão a mão a possibilidade de levar internet mais rápida ao consumidor final. É por isso que a frequência de 3GHz é a mais usada nos países onde a tecnologia já é uma realidade.

Os técnicos da Anatel destacaram que a faixa de 3,5 GHz terá 400 MHz de espectro para as operadoras do país, um patamar superior dos EUA, que dispõem de 280 MHz. “As empresas vão iniciar no mercado de 5G por aqui sem nenhum tipo de amarra de insumo essencial. O caminho para a evolução da tecnologia será muito mais rápido”, disse Abraão.

Por outro lado, as companhias terão pela frente o desafio de lidar com a legislação para a instalação de antenas, um dos entraves já detectados pelo setor. Para o 5G, o número de equipamentos será muito maior do que necessário no 4G, por exemplo.

“Estamos atuando em frentes de trabalho para criar regras que permitem a instalação de infraestrutura de pequeno porte com dispensa de qualquer tipo de licença municipal”, disse Arthur Coimbra, conselheiro da Anatel.

Precisarão também “limpar” a faixa que, no momento, é a responsável pela transmissão de TV via parabólica — os usuários de parabólicas terão de ser migrados para faixas entre 10,7 GHz e 18 GHz.

Para Emmanoel Campelo, outro conselheiro da Anatel, o maior desafio a curto prazo será “disponibilizar o 5G já nas capitais em 2022 e conseguir antecipar ao máximo o calendário de oferta para outras localidades”.

Desempenho do Leilão 5G, por faixa de radiofrequência:

Faixa de 700 MHz

Valor econômico: R$2,3 bilhões
Ágio: R$ 1,27 bilhão
Compromissos originais: R$2,84 bilhões
Valor econômico final: R$3,57 bilhões

Faixa de 3,5 GHz nacional

Valor econômico: R$ 22,65 bilhões
Ágio: R$ 145 milhões
Compromissos originais R$25,49 bilhões
Valor econômico final R$ 22,79 bilhões

Faixa de 3,5 GHz regional

Valor econômico: R$ 6,04 bilhões
Ágio: R$ 1,88 bilhões
Compromissos originais: 7,50 bilhões
Valor econômico final: 7,92 bilhões

Faixa de 2,3 GHz (50)

Valor econômico: R$ 4,87 bilhões
Ágio: R$ 1,09 bilhão
Compromissos originais: R$ 5,88 bilhões
Valor econômico final: R$ 5,98 bilhões

Faixa de 2,3 GHz (40)

Valor econômico: R$ 2,83 bilhões
Ágio: R$ 653 milhões
Compromissos originais: R$ 3,42 bilhões
Valor econômico final: R$ 3,49 bilhões

Faixa de 26 GHz

Valor econômico: R$ 2,98 bilhões
Ágio: R$ 54 milhões
Compromissos originais: R$ 2,68 bilhões
Valor econômico final: R$ 3,03 bilhões

Calendário

O 5G será ofertado a partir do seguinte calendário:

  • até 31 de julho de 2022: para capitais e o Distrito Federal
  • até 31 de julho de 2025: para cidades com mais de 500 mil habitantes
  • até 31 de julho de 2026: para localidades com mais de 200 mil pessoas
  • até 31 de julho de 2027: para municípios com mais de 100 mil habitantes
  • até 31 de julho de 2028: para locais com mais de 30 mil habitantes

Futuro (presente) com o 5G

O 5G fornecerá conectividade de banda larga robusta, com baixa latência (tempo mínimo entre o estímulo e a resposta da rede de Telecom) de forma massiva. Trata-se de uma infraestrutura que possibilitará a criação de novos serviços, afirma a Anatel.

A grande diferença do 5G está na diversidade de uso que a rede deve suportar, quando comparada às atuais, desenvolvidas essencialmente para disponibilizar banda larga móvel. O 5G permitirá a conexão de pessoas e objetos.

Entre os avanços esperados para o 5G estão:

  • Aumento das taxas de transmissão – maior velocidade
  • Baixa latência – tempo mínimo entre o estímulo e a resposta da rede de telecom
  • Maior densidade de conexões – quantidade de dispositivos conectados em uma determinada área
  • Maior eficiência espectral – quantidade de dados transmitidos por faixa de espectro eletromagnético
  • Maior eficiência energética dos equipamentos – economia e sustentabilidade

A integração de diversos componentes com diferentes tecnologias levará as redes 5G na direção de comunicações bem mais confiáveis e com ultraconectividade.

O 5G também é aguardado como grande propulsor nas indústrias automobilística, agropecuária, de saúde e bem estar, manufatureira e logística no sentido da elevada digitalização, o que pode viabilizar os conceitos de indústria 4.0 e agro 4.0, aponta a Anatel.

Por Dhiego Maia, Infomoney