Economia de Proximidade, 10 pistas – Por João Arroyo

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Por João Claudio Tupinambá Arroyo

Com o crescimento das cidades e o aumento da dificuldade de mobilidade urbana, as pessoas tendem, cada vez mais, procurar soluções para suas demandas perto de casa ou do trabalho, onde precisam circular com maior frequência. Esta tendência tem favorecido a economia dos bairros, principalmente pela proximidade com o local de moradia e, cada vez mais, também do local de trabalho. A vida no bairro ganha maior dinamismo social, econômico, político e cultural.

A economia de proximidade tem sido objeto de estudos científicos. Diferentes categorias de proximidades são identificadas na teoria, tais como: geográfica, organizada, cultural, social, cognitiva, eletrônica, organizacional e institucional(GILLY; TORRE, 2000). Aqui, trataremos a respeito da dimensão territorial e, mais especificamente, quanto à compreensão das oportunidades e iniciativas que favorecem a economia do bairro.

Ao procurar algo para comprar e assim resolver algum problema ou demanda, as pessoas contabilizam também o custo de deslocamento, o tempo necessário e o quanto vão gastar em dinheiro com o ônibus, van, taxi, uber ou carro particular. Contabilizam não só o dinheiro diretamente gasto naquele ato, mas o custo do desgaste pessoal e do carro, se for próprio. Ou seja, às vezes, o consumidor prefere comprar perto de casa porque somando o custo, o tempo e o esforço necessários para comprar no centro da cidade, não compensa, mesmo que o preço do objeto seja um pouco menor.

Mas é claro, a proximidade não é o único fator. Os dois principais fatores, que vêm antes da proximidade, são a confiança e a freguesia. O consumidor precisa confiar que o produto ou serviço realmente vai resolver seu problema ou demanda, o que muitas pessoas relacionam com qualidade. Para comprar é preciso confiar que vai pagar e vai receber. Que vai receber e que se não resolver poderá trocar ou ter seu dinheiro de volta, quem consome precisa se sentir seguro. As pesquisas mostram que os consumidores estão dispostos até a pagar um pouquinho mais, desde que realmente se sintam seguros e confiem. A confiança que faz com que o consumidor diga “este produto do seu João é de qualidade” qualidade é como o produto resolve o problema do consumidor. Se ele constatar que valeu a pena confiar, além de atestar a qualidade ele ainda acrescenta “e pode ir lá vc também”, ele vira parceiro do seu fornecedor, a pessoa que empreende.

O outro fator fundamental é o que chamamos de freguesia, é o atendimento, é o serviço ou valor agregado ao produto principal que ajuda o freguês a resolver seu problema. Para isso, o primeiro passo é se treinar para atender sem julgar, seja quem for e o que faça em seu mundo particular. Quem o procura para comprar é um parceiro potencial e depende também de você que ele seja parceiro para valer. O segundo passo é conhecer como esse parceiro vive, o que ele pode comprar e como você pode ajudar a resolver o problema dele. É assim que se ganha dinheiro, sabendo resolver o problema de outra pessoa.

E, nada melhor do que viver perto, morar na vizinhança, viver em Comunidade, para conhecer seu próprio freguês e saber dos problemas que ele vive e você pode ajudar a resolver. Como é que você acha que surgiu o crédito e depois os bancos?…foi assim.

Começou com a caderneta da mercearia, dando crédito para o bom pagador, o vizinho que todos viam que se esforçava para trabalhar e gerar o seu sustento. Cultivar o convívio em comunidade é um forte fator de desenvolvimento econômico local. Vamos lhe mostrar 10 possibilidades de usar a proximidade para melhorar economicamente a partir do próprio bairro.

1) A educação está na base de todo projeto de desenvolvimento, então uma das primeiras iniciativas deve ser a formação de uma Escola de Empreendedorismo e Cidadania Comunitária: para ensinar as pessoas a conviverem e se respeitarem, só com um bom convívio, a confiança, base das relações humanas, das trocas, do comércio, pode estimular oportunidades e renda. Fortalecer a cultura da cooperação e da solidariedade é importante para que todos assumam a responsabilidade com a sua própria rua e o bairro. Ensinar a importância da Confiança e da Freguesia, deve ser a matéria principal.

2) Se organizar e levantar os principais hábitos de consumo da comunidade para buscar casar Produção(Oferta) e Consumo. Ora se a mola mestra do mercado é o consumo e o consumidor é meu vizinho, eu o conheço e ele confia em mim, então eu tenho as melhores condições para atendê-lo em suas principais necessidades. Assim é preciso olhar o outro, até o concorrente, como parceiros na organização do mercado do Bairro. Para selar esta articulação é muito importante criar o Banco Comunitário, como várias comunidades estão fazendo Brasil a fora, a partir da experiência do Conjunto Palmeira em Fortaleza, no Ceará, que criou o Banco Palma de crédito popular. Claro que tudo que começa, começa pequeno, mas as experiências mostram que é uma ferramenta fundamental para que os empreendedores se aperfeiçoem comercial e produtivamente para atender melhor, em mais setores e maior escala.

3) Mas além de financiar e orientar os investimentos produtivos, é preciso financiar o próprio consumo. Para isso, a melhor ferramenta para aquecer a circulação financeira e fidelizar o consumo entre os empreendedores do Bairro, é a criação da Moeda Social. Já pensou ter um dinheiro que só circula no seu bairro ou distrito? Que a própria comunidade pode batizar e se identificar? Já pensou o freguês entrando e perguntando “Quanto custa isso?” e você, que mora no Bengui, responde… “10 Bengolas”. Com a moeda social se financia principalmente consumo que terá que ser feito entre os empreendedores que aceitam a moeda. Moeda lastreada em Real para posterior câmbio. Já existem mais de 200 Brasil a fora. Em Mosqueiro, na Baia do Sol, a comunidade criou o Banco Tupinambá e a moeda Moqueio.

4) Ao mesmo tempo é possível trabalhar uma outra ferramenta econômica para fortalecer os produtos e serviços autônomos o Banco de Trabalho, onde artesãos, costureiras, cozinheiras, pedreiros, faxineiros, encanadores, eletricistas etc depositam suas horas de trabalho e podem trocar por outras horas de um outro trabalhador ou por dinheiro, por prestar o serviço diretamente, estes autônomos cadastrados treinados podem ser chamados pelos empreendedores ou moradores, também aceitam a Moeda Social e ajudam a girar a economia do próprio Bairro.

5) Com o Banco Comunitário e a Moeda Social, ou não, é possível criar Clubes de Consumo, que organizam consumidores do mesmo produto para comprarem em maior quantidade com menor preço. Ou, também pode funcionar como consórcio para adquiri mercadorias com valor alto. Se houver credibilidade e responsabilidade não há limites para o desenvolvimento da comunidade.

6) Tem tido muito sucesso em grandes cidades a Segurança Solidária. Uma espécie de organização comunitária, que pode se basear em um aplicativo, em que os moradores acompanham 24h a circulação no bairro, os eventos que ocorrem, garantindo a segurança dos jovens e moradores.

7) Os empreendedores da comunidade podem realizar seus eventos promocionais, como festivais e valorizar a cultura do seu próprio Bairro. Algo tipo uma “Black Friday” ou Promoção Comunitária, com desfile, show com artistas locais, festival gastronômico, torneios, arte etc A convivência exige um aprendizado permanente mas consolida a confiança e o crédito mútuo.

8) Outras inovações podem ser introduzidas com ousadia e criatividade. As pesquisas no varejo mostram que o consumidor valoriza cada vez mais a garantia, então é possível criar a Garantia Comunidade, para que ninguém tenha qualquer prejuízo se comprar no Bairro. Também com aplicativos é possível desenvolver serviços como o Delivery vizinhança, o Carona do vizinho(uberbairro) etc

9) A parte destacamos que um serviço fundamental é o de comunicação, propaganda e promoção, que também são empreendimentos particulares mas que precisam se articular e formar a Rede de Comunicação do Bairro, para que combinem estratégias de informação dos consumidores porque quanto mais aquecido estiver a economia do bairro, todos ganham.

10) Deixamos por último, talvez o mais importante, o conforto social no Bairro ou o acesso aos Direitos Básicos: Melhor ônibus, melhor saneamento, melhor Segurança, melhor infraestrutura, melhor educação e saúde: Este é o principal fator de fortalecimento da economia porque, na verdade, e vou revelar um segredo escondido a muitas chaves. As pessoas não são consumidores somente, as pessoas são gente, principalmente. E elas dão valor ao que faz elas viverem melhor, não só materialmente, mas emocional e afetivamente. E o que nos dá segurança é o reconhecimento do outro que está na garantia dos Direitos de cada um. Então a economia precisa do aquecimento do mercado e o mercado precisa da qualidade da Sociedade, que é dada pelos direitos que garante para os seus. Mas a Sociedade somos nós, então somos nós que temos que tomar a iniciativa, até quando for necessário demandar o governo. Por isso, vemos como fundamental para o desenvolvimento econômico a organização do Conselho da Sociedade do Bairro – para articular as entidades do Bairro e realizar consultas, enquetes, debates que criem a vontade de participar e a felicidade de ser do Bairro.

Cada bairro tem uma ou mais realidades, mas a base está na construção da confiança, na cooperação, no respeito e solidariedade. Daí vem a riqueza.

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