Antigo Ramal do Pinheiro, braço da Estrada de Ferro de Bragança (Foto: SPVEA, 1955)
A Avenida Augusto Montenegro, em Belém do Pará, tem sua origem ligada a um período importante da história do Brasil, sobretudo, no início do século XX, quando a política nacional de transportes estava voltada para o modal ferroviário. Nesse contexto, é pensada a abertura da Estrada de Ferro de Bragança (EFB), em 1889, e, logo depois, do Ramal do Pinheiro, em 1906, pelo então Governador do Estado do Pará, Augusto Montenegro. Este ramal era formado por 16 quilômetros de trilhos que cortavam as Fazendas Val-de-Cães e Tapanã, sendo um braço da EFB que iniciava no Entroncamento – a primeira estação de parada do trem que partia de São Brás – e se estendia até a Vila Pinheiro, hoje Distrito de Icoaraci, terminando exatamente na Praça da Igreja Matriz.
Naquele tempo, o advento do ramal ferroviário alterou profundamente a vida social e a configuração espacial da então Fazenda Pinheiro, onde localiza-se a Vila de mesmo nome, um complexo agrícola de pequenos sítios, rocinhas e granjas, antes acessível apenas por via fluvial. Até 1906, toda a logística de produtos e pessoas era realizada por embarcações. Logo, a implantação dos trilhos foi fundamental para a interação do núcleo central de Belém com a Vila, contribuindo para sua atual conjuntura urbana como Distrito Administrativo. À medida que a Vila Pinheiro era incorporada ao cotidiano urbano de Belém, houve sua gradativa integração ao tecido urbano da cidade.
Na primeira metade do século XX, a ferrovia representou o eixo de desenvolvimento da Segunda Légua Patrimonial do Munícipio – correspondente à porção de terras concedida pelo governo estadual ao Município de Belém, visando a ampliação do seu patrimônio fundiário, em 1899 – povoados surgiram às suas margens, constituídos na maioria por modestos casebres de colonos nordestinos e estrangeiros (japoneses, ingleses, entre outras nacionalidades) dedicados a atividade agrícola, sendo os bairros do Tenoné, da Campina de Icoaraci e do Coqueiro os primeiros núcleos populacionais daquela via. Também, nessas imediações, dado o bucolismo e a existência de muitos igarapés na região, foram estabelecidos muitos retiros e chácaras onde a elite da borracha se refugiada aos finais de semana. Ocorreu que a Vila Pinheiro transformou-se em balneário e opção de segunda moradia para a classe mais abastada de Belém, onde erigiram luxuosos chalés.
Com o declínio da economia da borracha na Amazônia e o consequente período de decadência e estagnação econômica, tem-se a implantação de uma política rodoviária pelo Governo Federal. A administração de Juscelino Kubistchek representou o auge dessa política, com a construção de rodovias, abertura de estradas e o fechamento de diversas ferrovias, como foi o caso da Estrada de Ferro de Bragança. Em 1965, a ferrovia fora desativada e parte de seu trecho serviu de base para construção da rodovia Belém-Brasília. Nessas circunstâncias, sem manutenção e em péssimas condições, o ramal do Pinheiro parou de ser trafegado, sendo desativado e esquecido até 1975, quando foi transformado efetivamente em avenida, na gestão de Ajax D’Oliveira na Prefeitura de Belém.
Com as margens ainda ocupadas predominantemente por imóveis que guardavam características rurais, seus 15 quilômetros de extensão foram duplicados, com financiamento conjunto do Governo Federal e Prefeitura Municipal, levando três anos conclusão, de 1975 a 1978. O então General-presidente Ernesto Geisel veio à capital paraense para inaugurar a “Estrada Municipal BL-17”, batizada de Avenida Augusto Montenegro, em alusão ao centenário do ex-governador paraense. Embora o próprio governo a chamasse assim na propaganda institucional, oficialmente nunca foi rodovia. Foi denominada avenida por lei Municipal 6.387 de 1967. Todavia, na memória popular ficou a Rodovia.
O antigo território da Fazenda Val-de-Cães, o qual fora cortado pelos trilhos da EFB, se converteu, entre as décadas de 1970 e 1990, em uma das principais fronteiras imobiliárias da Região Metropolitana de Belém. Diferentemente da Primeira Légua Patrimonial, centro da capital, a ocupação ao longo da rodovia não contou com a implantação de um plano de alinhamento. O papel do Estado foi preponderante para estabelecer um padrão de urbanização na região, através dos conjuntos habitacionais da COHAB-PA e Cooperativas habitacionais, atuando conforme as políticas de habitação do Banco Nacional de Habitação (BNH). A infraestrutura urbana mínima garantida pela intervenção estatal, o baixo preço da terra e as grandes dimensões dos lotes existentes na região atraiu o investimento dos capitais imobiliário e industrial locais, que passaram a enxergar o potencial da região para uma nova categoria habitacional, a dos condomínios horizontais fechados, além da instalação de várias indústrias nos terrenos ao longo da via.