Foto: Hannah Mckay/EPA/Agência Lusa
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou neste sábado (21) que o bloco não reconhece o regime Talibã, apesar de manter um diálogo com o grupo extremista para retirada de cidadãos do Afeganistão.
A declaração foi feita em visita a um centro criado pelo governo da Espanha, na base aérea militar de Torrejón, n nordeste do país, para receber pessoas que deixam o território afegão.
Para a líder do bloco europeu, é necessário manter contatos operacionais com o Talibã para facilitar que as pessoas em Cabul consigam chegar até o aeroporto. “Mas isso é completamente distinto e separado de negociações políticas”, disse.
“Não há negociações políticas com o Talibã e não há reconhecimento do Talibã”, disse a líder da União Europeia.
“O 1 bilhão de euros reservado pela União Europeia para os próximos sete anos para ajuda ao desenvolvimento está vinculado a condições estritas: respeito aos direitos humanos, bom tratamento de minorias e respeito pelos direitos de mulheres e meninas”, indicou von der Leyen.
A chefe do bloco europeu alertou para os relatos de mulheres que não são aceitas em seus locais de trabalho e de perseguições por conta de opiniões.
Centro de acolhida
Neste sábado, altos funcionários da União Europeia visitaram as instalações a base aérea militar de Torrejón, junto com o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, que disse que a instalação pode acomodar 800 pessoas.
Dois aviões enviados pela Espanha a Cabul já chegaram à base aérea. Um trouxe cinco espanhóis e 48 afegãos que trabalharam para a Espanha e suas famílias. Um segundo chegou na sexta-feira (20) com mais 110 afegãos.
Um terceiro voo com outros 110 passageiros deixou Cabul com destino a Dubai, cidade que a Espanha está usando como ponto de parada antes que os refugiados sejam transferidos para Madri.
A base aérea também está recebendo voos da União Europeia com outros refugiados afegãos. Todos devem passar até três dias lá antes de se mudarem para centros de acolhimento em outros lugares da Espanha ou para outros países europeus.
Sánchez disse que a resposta de outros membros da UE foi positiva e que alguns refugiados afegãos já partiram para outros países do bloco.
Os Estados Unidos e os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), por sua vez, estão lutando para ajudar os afegãos que trabalharam para eles e que, agora, temem represálias do Talibã para chegar e entrar no aeroporto de Cabul.
Von der Leyen disse que a equipe da UE está conversando com autoridades americanas e da Otan sobre o problema. “É uma situação muito difícil, está mudando a cada minuto, mas há um trabalho intenso sendo feito para tirar o melhor proveito de uma situação muito difícil”, disse ela.
Von der Leyen, no entanto, também pediu que a comunidade internacional ajude os afegãos que ficaram no país.
Segundo ela, o retorno do Talibã ao poder provocou o deslocamento de quase 3,7 milhões de pessoas. Muitos países europeus também temem outra onda de migração semelhante à de 2015 provocada pela guerra civil na Síria.
“Devemos ajudar a garantir que os afegãos deslocados possam voltar para suas casas ou pelo menos ter uma perspectiva, estejam eles atualmente no Afeganistão ou em países vizinhos”, disse ela.
Von der Leyen disse que a questão da migração afegã deve ser uma preocupação central da reunião do G-7 da próxima semana para ajudar a criar “rotas legais e seguras em todo o mundo, organizadas por nós, a comunidade internacional, para aqueles que precisam de proteção”.