Foto: OLIVIER DOULIERY/AFP
O vazamento de dados dos smartphones de 180 jornalistas da imprensa internacional traz novas evidências de um grande esquema de espionagem por meio do spyware Pegasus, vendido pela empresa israelense NSO a governos, em sua maioria, autoritários. Entre os profissionais vigiados, estão jornalistas do The Guardian, do Financial Times, do The Wall Street Journal, da CNN, do The New York Times, da Al Jazeera, da France 24, da Radio Free Europe, da Mediapart, do El País, da Associated Press, do Le Monde, da Bloomberg, da France-Presse, da The Economist, da Reuters e da Voice of America.
De acordo com informações do jornal britânico The Guardian e da organização Forbidden Stories, que tem se dedicado ao tema e aponta o vírus como “nova arma global para silenciar jornalistas”, o Pegasus é capaz de se infiltrar no telefone por meio de mensagem de texto e, a partir daí, extrair todos os dados armazenados no aparelho, acessar as fontes confidenciais dos repórteres, mostrar mensagens de bate-papo, permitir que chamadas sejam ouvidas e conversas gravadas por meio de ativação do microfone do dispositivo e, até mesmo, rastrear todos os passos da pessoa (por meio do GPS do aparelho).
Entre os jornalistas confirmados pela análise como hackeados está Siddharth Varadarajan, co-fundador e repórter do site de notícias indiano Wire. Na época em que foi hackeado, em 2018, o governo nacionalista hindu de Narendra Modi era investigado por utilizar o Facebook para espalhar notícias falsas entre os indianos.
“Você se sente violado. Ninguém deveria ter que lidar com isso, mas em particular os jornalistas e aqueles que estão de alguma forma trabalhando para o interesse público”, disse Varadarajan à Forbidden Stories.
Ajuda nas investigações
A Forbidden Stories (em livre tradução “histórias proibidas”) é voltada a oferecer suporte aos jornalistas em perigo em todo o mundo e ajuda a garantir que suas investigações possam ser concluídas e publicadas, caso eles não sejam mais capazes de fazê-lo sozinhos. De acordo com a organização, o spyware israelense é responsável por possibilitar há, pelo menos, cinco anos, acesso a informações por parte de governos, acusados de assassinato de jornalistas.
“Em 2 de março de 2017, o jornalista mexicano local Cecilio Pineda pegou seu telefone e gravou sua última transmissão. Nele, o repórter da cidade de Altamirano, que dirigia um Facebook com mais de 50 mil seguidores, falou sobre o suposto conluio entre as polícias estadual e local e o líder de um cartel de drogas”, diz a organização. Pineda é um dos jornalistas listados como hackeados pelo Pegasus e sua morte segue sem culpados, assim como outras que ocorreram no México.
O NSO Group sempre transferiu a responsabilidade ao mau uso dos clientes, afirmando ser “uma empresa de tecnologia registrada e autorizada por agências do governo com o único objetivo de combater o crime e o terrorismo”.