Primeiros postes elétricos na Praça da República. (CACCAVONI, A. Album descrittivo do Pará, 1898)

Até o final do século XVIII, a capital da Província do Grão-Pará não usufruía de iluminação pública. Nos momentos de festas e comemorações, a população iluminava as fachadas das suas casas com velas feitas de sebo e gordura animal. Na capital do império, Rio de Janeiro, a as ruas eram iluminadas com candeeiros à base de óleos vegetais e animais, implantados por volta da década de 1790. Concomitantemente, o advento da iluminação pública chega a Belém do Pará inicialmente utilizando-se azeite de andiroba como combustível. Os lampiões deveriam ser acesos das sete horas até o romper do dia, em todas as noites. Nas noites de lua, os lampiões deveriam ser acesos uma hora antes e apagados uma hora depois de a lua se levantar.

Somente a partir metade do século  XIX o sistema de abastecimento da iluminação pública da capital paraense foi substuído pelo gás. Em 1864, a melhoria urbana era inaugurada em Belém pela Pará Gaz Company Limited, também conhecida como Gasômetro, situada no antigo Largo São José (atual Praça Amazonas), administrada por um grupo de origem britânica. O contrato incluía inicialmente a montagem de 700 lampiões para iluminação de praças, ruas, arrabaldes e demais lugares designados pelo governo provincial, dentro dos limites do perímetro urbano da cidade. Este número de combustores poderia ser elevado de acordo com as necessidades e deliberações da administração pública.

A área do Gasômetro nos mapas do século XIX – onde antes se encontrava o Jardim Público – compreendia o quadrilátero que, na memória recente da cidade, foi ocupado, por alguns anos, por uma concessionária de veículos e hoje é preparada para receber um grande empreendimento atacadista, na confluência da Travessa Conselheiro Furtado com a Avenida Serzedelo Corrêa. Ela era constituída de um conjunto de galpões industriais em ferro trazidos da Europa, ocupados por oficinas, armazéns, casa de máquinas, etc. Dos quais restou uma única estrutura, doada ao Governo do Estado e desmontada em meados da década de 1990, para ser realocada no Projeto do Parque da Residência, readaptada como o Teatro Estação Gasômetro.

O advento da iluminação à gás iniciou uma nova dimensão no que tange ao uso da cidade durante a noite. Ela proporcionava uma iluminação mais intensa ao longo das vias, permitindo que a população, após o cair da noite, caminhasse com relativa segurança ao longo das ruas iluminadas e estabelecessem animadas conversações ao longo do passeio público e das praças, que já recebiam algum tratamento paisagístico. Inclusive, os horários dos bondes foram estendidos até mais tarde para permitir que a população utilizasse os espaços públicos de Belém com maior intensidade.

Entretanto, a elevação das despesas públicas e os problemas na manutenção da qualidade da iluminação iriam reduzir o entusiasmo inicial com a luz a gás. Devido ao fato de os serviços de iluminação serem pagos com base em moeda estrangeira, sempre que o câmbio se tornava desfavorável, as despesas se elevavam. O número dos combustores a gás instalados era alternadamente aumentado ou diminuído nas diferentes administrações, em períodos de alta e baixa do câmbio, sem que se chegasse a um número que satisfizesse às autoridades e à população com a iluminação e com as respectivas despesas.

A lâmpada de arco voltaico seria apresentada ao mundo em 1875, pelo cientista russo Paul Jablochkoff. Pela sua grande intensidade luminosa, tornou-se um sucesso na iluminação pública, até as primeiras décadas do século XX. Em 1879, mesmo ano em que as lâmpadas, conhecidas também como velas Jablochkoff, ganhariam as ruas de Paris, o Imperador D. Pedro II concedia a Thomas Edison o privilégio de introduzir em nosso país os aparelhos e os processos de sua invenção destacando a luz elétrica. No Brasil, as primeiras aplicações da energia elétrica deram-se, assim como na Europa e nos Estados Unidos, exatamente no momento que ocorria um avanço da urbanização, com consequente aumento da demanda por serviços públicos e o incremento das atividades de transformação.

Na Amazônia, já se usufruía da pujança da economia da borracha e as principais capitais da Região, Belém e Manaus, viviam uma revolução urbana. Neste cenário, a instalação do serviço de iluminação elétrica, em Belém, se iniciou com a decisão do Conselho Municipal pela adoção do sistema elétrico, no início de 1893, e com o estabelecimento do prazo até outubro deste ano, para a apresentação das propostas em concorrência pública de prestação do serviço. Em 1894, a intendência municipal de Belém, na administração de José Coelho da Gama e Abreu, o Barão de Marajó, contratou o fornecimento de luz elétrica para iluminação pública. No mesmo ano, o governo do Estado adquiriu um gerador elétrico para iluminar o Teatro da Paz. A instalação foi testada no aniversário da cidade, em 12 de janeiro de 1894, mas não atendeu às expectativas, segundo os jornais da época. O marco da chegada da energia elétrica no Pará foi, na verdade, a inauguração da iluminação elétrica da casa comercial “Paris n’América”

Os serviços públicos de eletrificação foram contratados junto à Companhia Urbana de Estrada de Ferro Paraense – que também era concessionária dos serviços de transporte público por bondes – e foram inaugurados em 1o de fevereiro de 1896. Mesmo se tratando de uma empresa brasileira, a luz era paga em libras esterlinas. Com a contratação do serviço de iluminação elétrica, a Pará Gas Company ficou apenas com o fornecimento de iluminação a gás para particulares. E, em 1896, a Companhia de Gás foi comprada pela The Pará Eletric Railway and Lightning Co Ltda., que implementou a iluminação elétrica e o sistema de bondes na cidade, substituindo, gradativamente, os cerca de 1.500 lampiões a gás que iluminavam as principais ruas da cidade.

Os primeiros prédios públicos dotados de iluminação elétrica em Belém foram o Matadouro Público (Curro Velho), o Necrotério, o Instituto Cívico-Jurídico Paes de Carvalho e o Mercado Público. Enquanto os serviços de fornecimento de força e luz para particulares se desenvolviam cada vez mais, o serviço de iluminação pública prestado pela Companhia Urbana era irregular e ineficiente. Logo que assumiu a intendência, em 1897, Antonio Lemos manifestou desagrado pelas lâmpadas incandescentes empregadas na iluminação pública. Ele preferia as lâmpadas de arco voltaico – como as que eram empregadas no serviço de Manaus – que tinham maior poder iluminante.

Em 15 de gosto de 1907, a cidade amanhecera com um ar festivo. Não somente pela data de comemoração da Adesão do Pará à Independência, mas também pela expectativa da inauguração de um melhoramento urbano bastante aguardado pela população: os Tramways (bondes) elétricos que percorreriam por um bom tempo as ruas de Belém, substituindo gradativamente os bondes à vapor e tração animal. A malha urbana desenvolvida pela empresa era de 120 km interligando vários bairros de Belém.

Como os “tramways” eram consideravelmente mais velozes que os bondes de tração animal, acabaram causando algumas adversidades aos incautos passageiros que não atentavam à sua segurança ao subir no bonde, ao descer, e principalmente ao cruzar os trilhos. A população canina nas ruas de Belém também era vitimada, quando inadvertidamente atravessavam as ruas no exato momento da passagem dos carros. O excesso de velocidade dos bondes permaneceria por bom tempo como uma constante, inclusive, ocasionando alguns óbitos.

Com a instituição de uma nova concessionária de viação urbana em Belém, iniciam-se os trabalhos de eletrificação dos serviços de transporte coletivo e de ampliação da rede de iluminação pública por meio de “lâmpadas de arco-voltaico” com intensidade equivalente a duas mil velas. Na implementação dos bondes elétricos, além do calçamento obrigatório, fazia-se necessária a execução do posteamento de sustentação da rede de transmissão de energia elétrica, que além de tracionar os carris, alimentava lâmpadas utilizadas na iluminação pública.

Surgem as primeiras linhas eletrificadas, no entanto, a falta de informação de parcela considerável da população de Belém sobre os benefícios da eletricidade e a intermitência do serviço agiram de maneira negativa neste processo, fazendo com que a “sedução da luz” e da eletrificação fosse observada de maneira negativa e temerosa pela população, a princípio. Acrescido da situação dos transportes, o fornecimento de força e luz da Companhia era irregular, o que causava várias interrupções nos serviços ao longo do dia, além de vários transtornos para as indústrias e estabelecimentos comerciais que não possuíam gerador próprio. O consumo de energia elétrica em Belém havia aumentado bastante e continuava crescente devido tanto ao aumento populacional quanto à implantação de novas indústrias, o que sobrecarregava as velhas caldeiras da usina geradora no bairro do Reduto – que hoje ainda conserva parte da estrutura da chaminé das caldeiras, no local de uma academia esportiva.

Ainda assim, ao final de 1907, a companhia possuía 1.570 registros de luz elétrica ligados à usina, fornecendo luz para 44.582 lâmpadas em casas particulares e 9.154, de iluminação pública distribuídas pela cidade. A população da cidade de Belém naquele ano era de cerca de 260 mil habitantes.