José Bonifácio Brasil de Oliveira, o Boninho, não está dentro da casa em que se passa a 21ª edição do Big Brother Brasil. Ainda assim, nesse período em que o principal reality-show da Globo vai ao ar, o diretor de variedades da emissora vivencia um período de confinamento. Responsável pelo tom e estilo do programa desde seu início, em 2002, ele é o responsável principal por fazer a engrenagem do jogo girar e, a cada ano, conquistar audiência, repercussão e mais faturamento publicitário.
Apesar de todo o buzz que o BBB gira, o “big boss”, como é chamado por quem acompanha o programa – e pelo próprio apresentador, Tiago Leifert – é avesso a aparições e entrevistas na imprensa. Nesta reta final do BBB21, no entanto, Boninho aceitou falar com Meio & Mensagem para responder perguntas de outros profissionais de mídia, marketing e comunicação.
A íntegra da conversa com o diretor de variedades da Globo está disponível na edição especial de aniversário de Meio & Mensagem, que circula com data desta segunda-feira, 19, e pode ser acessada via aplicativo e pelo Acervo. Confira, abaixo, alguns trechos da conversa:
Maisa Silva, atriz, apresentadora e influenciadora — Eu sou da Geração Z e é perceptível que nós consumimos o entretenimento de um jeito diferente, usando telas simultâneas e sentindo a necessidade de participar e colaborar ativamente desses conteúdos, o que é um comportamento diferente das gerações anteriores. A partir disso, queria muito saber: quais são os seus principais esforços para alcançar e conquistar esse público dentro dos programas que você idealiza?
Boninho — Primeiro , eu vou falar para a Maísa que sou geração A, B, C, W, Y etc. A gente sempre mira o Big Brother no futuro e sempre bebemos desse universo. Não é à toa que nossa diretora de conteúdo, que hoje não está mais na Globo, a Ana Bueno, criou a Rede BBB. Foi a primeira vez que pensamos em deixar de olhar a Globo como centro de tudo para olhar todo o universo daquilo que estava acontecendo. Acho que sou o assinante do Twitter 005. Quando entrei no Twitter, não tinha ninguém e eu nem sabia o que fazer lá. A Ana Bueno me falou, na época, que existia uma coisa nova e que tínhamos que entrar e a gente postava que estava saindo de casa, que tinha escovado os dentes. Era isso que a gente tuitava. O BBB sempre caminhou olhando para o futuro. Sempre olhamos para o futuro, ensinamos a usar SMS para a votação, o Instagram. Olhamos para essa geração e sabemos que importante no Big é que ele fala com todo mundo e traz uma juventude à Globo. Tem um refresh desses targets que dificilmente vemos na televisão. Quando fazemos seleção, as pessoas falam que nasceram vendo Big Brother e eu penso: “Caramba, como estou velho!” (risos). Nosso olhar é sempre para o futuro, para o que existe de tecnologia nova para usarmos. O site do programa já tem uma cara diferente, usamos o Gshow, o Multishow, trabalhamos no Globoplay. O Big olha essas plataformas sempre com esse conceito e o que tiver de novo, de certa forma, vamos tentar nos apropriar. Queremos que falem bastante da gente, porque a gente está ouvindo também.
Juliana Algañaraz, CEO da Endemol Shine Brasil — É fato que a Globo foi a gran de pioneira ao trazer o gênero reality show para o Brasil, ainda nos anos 2000. E tanto você, a Globo e a Endemol Shine Brasil já ouvimos muito de outros, ao longo desses mais de 20 anos, que os realities eram apenas “um sucesso passageiro”. Primeiro queria saber qual foi o seu olhar para apostar no No Limite e no Big Brother Brasil lá atrás, nos anos 2000? E olhando agora para essa trajetória e para a continuação desse sucesso nos dias de hoje, como você enxerga a evolução deste gênero no País?
Boninho — Sempre olhei e ainda olho o reality como entretenimento. Quando ele começou a aparecer no mundo inteiro, falei que iria funcionar. O importante de tudo é você fazer bem-feito, essa é a diferença. Quando fizemos o primeiro BBB, as pessoas pensavam que iria acabar. Mas aí sabíamos que tínhamos que fazer o segundo melhor. Depois, que tínhamos que fazer o terceiro melhor ainda. Ele sobrevive porque fazemos direito. Quando me chamaram para fazer o Big Brother, a primeira coisa que falei foi que o formato original do programa não cabia no Brasil. Era uma casa com 50 m², com uma banheira para tomar banho. Achei que aquilo não era o Brasil, que tínhamos que redesenhar e eles toparam fazer isso. Por mais que falem que os participantes são parecidos, nós estamos criando o tempo todo e cada BBB é um BBB com sua característica e diferencial que vai sendo construído ao longo do caminho. Costumo dizer que reality é uma novela ao contrário porque, na novela, você escreve um texto e desenvolve essa gravação. No reality, você precisa ser mais criativo porque é necessário correr atrás de uma história que está acontecendo. É preciso de um grupo genial de autores, editores, que sentem juntos para pensar em como contar aquela história e como ela será empacotada. A gente faz reality show, um show de realidade. Eu tenho umas 49 temporadas, 12 formatos diferentes na minha mão, fora os realities que criei para o programa da Ana Maria Braga, como o SuperChef. Trabalhar com reality depende basicamente de entregar um produto benfeito. Se não é benfeito, o reality não vai durar, assim como a novela não vai durar. Existem alguns chatos que dizem que não assistem o reality, mas que comentam depois que viram a briga da Viih Tube (participante da 21ª edição do BBB). E agora piorou porque, como o Big Brother gera muita repercussão, qualquer coisa que falam na internet acabam colocando o BBB no meio para engajar ainda mais.
Por Meio&Mensagem