A colonização da ilha de Mosqueiro – Por Heber Gueiros

Ilha de Mosqueiro (Reprodução Flickr)

Não há um consenso sobre a origem do nome Mosqueiro. A versão mais aceita é que esteja ligada ao moqueio, uma técnica indígena de preparação do peixe para conservação. A técnica consistia em cavar um buraco na areia forrando-o em seguida com folhas de moquém onde eram depositados os alimentos. Uma nova camada de folhas de moquém era colocada e sobre ela se acendia uma fogueira que deveria ficar acesa durante algum tempo. A carne sendo retirada após esse processo estava cozida e poderia ser consumida ou armazenada sem apodrecer. Os tupinambás submissos, também conhecidos como tapuias, eram encarregados desta tarefa. Como não possuíam a cultura do sal e não dispunham de tecnologias como a refrigeração, as praias de Mosqueiro, caminho obrigatório para quem chegava em Belém, foram palco da prática intensiva do moqueio. Por outro lado, os colonizadores portugueses não eram habituados com o termo “moqueio” e sim Mosqueiro, pois em Portugal se conhece o “Penedo do Mosqueiro”, monte de paisagem exuberante. Os navegadores ao não corrigirem a palavra quando se referiam à ilha, acabaram, com o passar do tempo, designando Mosqueiro, sendo essa uma das versões mais prováveis para a designação da ilha.

Segundo levantamos históricos, os primeiros habitantes da ilha foram os indígenas Tupinambás e Morobiras, exímios pescadores, descendentes de grupos originários de mais de 10 mil anos, tal qual na ilha do Marajó. Às margens do rio, na ilha do Mosqueiro, os Morobiras corriam ágeis pelas matas densas atrás da caça farta, recolhiam as deliciosas frutas amazônicas, singravam as àguas corajosamente em suas igarités sobre as maresias em busca do peixe, ou pontilhavam as areias das praias na prática da mariscagem ou do moqueio. Cultuavam o deus Sol em rituais ao amanhecer e, nos solstícios de verão e de inverno, realizavam grandes festas de agradecimento pela vida tranquila no paraíso banhado pelas águas doces, na foz do grande rio.

Estes povos teriam sido amistosos desde o primeiro contato com os europeus e isso facilitou bastante a que o processo de submissão ocorresse naturalmente ainda no século XVII, com a intensa intervenção das missões jesuítas. Os jesuítas chegaram à ilha por volta de 1653 e instalaram a Missão Myribira na aldeia chamada Mortiguara, que por corruptela hoje se escreve Murubira, nome tanto de um igarapé quanto de uma famosa praia da localidade. A Baía do Sol seria a povoação mais antiga da bucólica, onde aportaram os colonizadores vindos de São Luís do Maranhão. O primeiro documento que se refere à ilha é um mapa datado de 1666, onde aparece como “Ilha de Santo Antônio”. Em 1680, navegadores portugueses traçaram uma ponta entre as ilhas de Caratateua (Outeiro) e do Sol (Colares) denominada “Ponta da Musqueira”.

Entretanto, há uma outra versão – menos provável, porém, mais interessante – relacionada a chegada de um famoso corsário espanhol à ilha. Segundo um antigo relato, conta-se que o corsário Ruy Garcia Moschera, desertor da Coroa espanhola, havia adentrado a baía do Marajó, por volta de 1520, com sua embarcação avariada após atravessar uma terrível tempestade à altura dos Açores e perder o rumo para o sul do Brasil. Ao aportar na praia, teria sido recebido amistosamente pelo povo originário, o qual lhe prestou assistência na alimentação da tripulação e nos reparos das avarias da sua embarcação. Moschera que, diz-se, desbravou o território Norte do Brasil antes mesmo dos portugueses, vinha da Espanha e buscava as terras do Adelantado Cabeza de Vaca, no atual Estado de Santa Catarina. E teria feito da ilha seu refúgio por algum tempo antes, de zarpar rumo ao Sul, com o objetivo de atacar e saquear naus inglesas, holandesas e francesas. Assim teria surgido o nome Ponta do Moschera, depois transformado em Ponta da Musqueira.

Anos mais tarde, o corsário espanhol se estabeleceria na capitania de São Vicente, onde construiu um forte, despontando com uma das lideranças na Guerra de Iguape. A povoação de Iguape foi estabelecida por Moschera, nas primeiras décadas do século XVI, era habitada por náufragos e desertores espanhóis do rio da Prata.