Árbitro Dewson Freitas diz que futebol paraense é uma bagunça

Foto: Divulgação

Por Celso Freire

O árbitro paraense Dewson Freitas não tem “papas na língua”. Ele mesmo disse que não tem medo de falar o que pensa. Em entrevista ao jornalista Celso Freire, Dewson fez duras críticas ao futebol paraense, que ele considera uma bagunça. Para ele, Remo e Paysandu não sobem esse ano de divisão no campeonato brasileiro e devem continuar na série C.

O árbitro também criticou os cartolas dos clubes pela forma como contratam jogadores e que a torcida não influencia em suas marcações dentro de campo. Dewson também falou sobre as punições aos árbitros que cometem erros em campo. Segundo ele, as punições são brandas, apenas com suspensões de jogos.

Confira os trechos da entrevista

Futebol paraense

Vou ser bem sincero – O nível está bem abaixo. Hoje deixa muito a desejar. Falta muita coisa. Tá chegando o campeonato brasileiro. Falta jogador, dirigentes…as equipes estão preparadas? Agora é ponto corrido e salve-se quem puder. Venho acompanhando os jogos pela televisão… meu Deus do céu. Que nível nós chegamos. Para subir para série B está complicado. Acho que, no mínio, daqui à dois anos suba um ou outra equipe.

Estádios lamacentos

A culpa não é dos campos. Todos os jogadores, treinadores, dirigentes sabem que o nosso clima é chuvoso. E ai, vamos jogar em que mês?. Não tem condições. Nossos gramados deixam muito a desejar. Hoje só temos os estádios da Curuzu e do Baenão que você pode contar. E até esses dois não suportam a quantidade de água. Se cair temporal alaga tudo. E providências nenhumas são tomadas. Estão empurrando com a barriga.

Jogadores x Árbitro

Sempre dentro do possível, o contato com o jogador é feito da melhor forma possível. Temos que impor respeito, falando somente o necessário e acionando o jogador apenas quando necessário. Eu falo pouco e não estamos para justificar os cartões. Os jogadores sabem o que estão fazendo e sabem das infrações que estão cometendo”.

Torcida

Eu sempre falo que o árbitro precisa de uma rodagem e precisa ter uma preparação psicológica. Nós temos essa preparação aqui na região, que é feito  mensalmente com os árbitros. O Árbitro que liga pra torcida fica totalmente desconcentrado. Eu gosto quando tem torcida, porque fica outro clima. Você se sente um astro, mesmo eles (torcedores) nos xingando. O estádio sem torcida é complicado. A torcida não influencia nas minhas marcações.

Punição aos árbitros

Existe uma equipe da Escola Nacional de Árbitros que analisam as partidas. Existe também um portal (site) exclusivo para os árbitros e lá vai a súmula e o relatório do inspetor/assessor que analisa o jogo. Ainda tem o inspetor de vídeo que fica em casa vendo e analisando o jogo. Toda essa análise vai para o portal. Cada atitude do árbitro é analisada e é obrigatório ter esse feedback do lance com erro ou com acerto. Caso haja necessidade, o árbitro é punido, mas a punição é branda. Fica apenas algumas rodadas fora do seu trabalho e depois retornam normalmente.

VAR

No Brasil, o árbitro assistente de vídeo (VAR, do inglês Video Assistant Referee), se comparado a outros países, é muito mais lento. As decisões do VAR na Europa, por exemplo, são mais rápidas. Aqui o processo é lento porque ainda há todo um cuidado para quem estar operando. Mas, muitas das vezes o arbitro não precisa consultar o VAR. Duas câmeras já são suficientes para uma conclusão. Quando buscam muitas câmeras ai é que demora. Se perde muito tempo.

Jogador estrela

Tem jogador que gosta de mandar no árbitro. O arbitro tem que estar tranqüilo e se impor. Eu trato todos de forma igual. Pode ser até o Neymar, seja quem for.

Firula no futebol

Sou contra. Isso é um desrespeito com o adversário, com o jogo, com telespectador. Futebol não é isso. Isso causa briga generalizada e acaba manchando o jogo desnecessariamente. Acaba causando tumulto sem necessidade. Assim como o comportamento do atleta dentro do campo. Em nosso campeonato, muitos cartões amarelos são em virtude de xingamentos. Se eu fosse dirigente, chamava esse jogador, e punia para doe no bolso. Senão, ele faz e acontece e fica por isso mesmo.

Trabalho Social

Sempre me identifiquei com o trabalho social com as crianças. Já fazia desde o inicio da minha carreira. Organizava campeonatos no bairro da Marambaia, em Belém. Faço distribuição de cestas básicas, sempre agregando crianças com torneio de futebol, sempre tendo a bola como foco. Além disso, há três anos faço parte do corpo de padrinho do TRT Tribunal Regional do Trabalho – 8ª região – na luta contra o trabalho infantil.