
Por Vandré Fonseca e Kátia Brasil, da Amazônia Real
Está preso preventivamente desde sábado (10) na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo, em Roraima, o imigrante guianense Gorden Fowler, de 42 anos, apontado pela Delegacia Geral de Homicídios como suspeito de atear fogo em dois ataques contra cinco refugiados venezuelanos, entre eles, uma família com uma criança, na semana passada, em Boa Vista. Ele foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado por motivo torpe (vingança) e sem direito de defesa das vítimas.
A criança teve queimaduras de segundo grau e está internada no Hospital da Criança. Os pais sofreram queimaduras leves e estavam sendo acompanhados por médicos, segundo informação da Secretaria de Comunicação do governo do Estado.
Em entrevista à agência Amazônia Real, o delegado Cristiano Camapum, titular da Homicídios, disse que o guianense Gorden Fowler é o responsável também por um ataque com fogo contra outro venezuelano. O caso aconteceu no dia 31 de janeiro em um posto de lavagem de carros. “O imigrante, que não ficou ferido, não fez o boletim de ocorrência na polícia”, disse.
O delegado afirmou que, em depoimento, o guianense declarou que não conhecia as pessoas que atacou, mas que sentia raiva dos venezuelanos depois que um imigrante daquele país roubou sua bicicleta. Ele escolheu os locais para os ataques, justamente por serem vulneráveis. Os imigrantes dormiam com portas e janelas devido ao calor.
“Ele [Fowler] criou um ódio, uma xenofobia contra os venezuelanos. Esse ódio é porque com a chegada dos venezuelanos, ele passou a ganhar menos nas ruas, pois é um andarilho. Ele ainda disse que não queria atacar mulheres e crianças, queria atacar homens, mas declarou que não estava arrependido”, disse Cristiano Camapum.
Os ataques provocaram reações de 48 organizações de direitos humanos e a manifestações de solidariedade e contra a xenofobia aos imigrantes venezuelanos refugiados em Boa Vista. (Leia mais embaixo)
O município tem uma população de 332.020 pessoas, conforme o IBGE (em 2017). Segundo a Polícia Federal em Roraima, mais de 17 mil venezuelanos pediram refúgio, em 2017. Este ano o número de solicitação já passou de 700. Os deslocamentos acontecem desde 2014, quando se intensificou a crise política e econômica no país vizinho. Sem abrigos e empregos, centenas de imigrantes dormem em praças da capital roraimense. Nas ruas, os migrantes são hostilizados e já foram ameaçados de deportação.
O delegado Cristiano Camapum explicou que Garden Fowler migrou de Georgetown, na República Cooperativista da Guiana [antiga Guiana Inglesa], em dezembro de 2017 para Roraima. Negro, desempregado e sem documentos, a polícia o classificou como andarilho. Ele foi considerado em situação irregular na imigração brasileira. Como não tem advogado, foi destacado o defensor público Eduardo de Carvalho Veras para acompanhá-lo no processo judicial. Procurado, o defensor não quis dar entrevista para falar sobre o depoimento do guianense à polícia.
Segundo as investigações, os dois ataques registrados na semana passada aconteceram no bairro Mecejana, zona oeste de Boa Vista, onde também vivia Gorden Fowler, conhecido no bairro como “Jamaica”. Ambos os casos foram de madrugada. No dia 5 (segunda-feira), o guianense, de acordo com o delegado Camapum, ateou fogo contra um homem e uma mulher que estavam dormindo na varanda de uma casa. No dia 8 (quinta-feira), o ataque foi em um galpão onde dormia uma família com 16 pessoas, três ficaram feridas (um casal e a criança).
A polícia disse que teve acesso a imagens de câmeras de segurança de uma empresa. “Ele lançou o líquido gasolina ou álcool e ateou fogo para dentro da casa. Não encontramos garrafas nas casas dos venezuelanos”, disse o delegado, descartando que o acusado tenha feito uma bomba. “A perícia vai definir quais materiais inflamáveis ele usou, mas acreditamos que foi gasolina”, completou.
No sábado (10) quando foi preso, o guianense Fowler confirmou os crimes, diz o delegado Cristiano Camapum. “Ele [Gorden Fowler] se reconheceu nas imagens e confirmou os dois ataques. Testemunhas também o reconheceram. Coloquei ele frente a frente com uma vítima. Na casa abandonada onde ele morava tinha um adesivo com o nome ‘incêndio’ na porta. Encontramos garrafas com álcool e restos de gasolina, e o isqueiro que ele usou para atear fogo”, afirmou o policial, dizendo que entre os pertences do foi encontrado R$ 180.
Fonte Amazonia Real