Home BACANA NEWS Úrsula Vidal escreve texto lúcido sobre abandono cultural de Belém

Úrsula Vidal escreve texto lúcido sobre abandono cultural de Belém

Úrsula Vidal escreve texto lúcido sobre abandono cultural de Belém

Ursula Vidal escreve um texto lúcido sobre o abandono cultural de Belém

Como MASSACRAR a IDENTIDADE e a CULTURA de uma cidade fazendo o “Z”

Enquanto o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho _cassado 2 vezes e pendurado na caneta por força de liminar _ assistia confortavelmente ao UFC na primeira fila do ginásio do Mangueirinho, na noite deste sábado, milhares de brincantes, artesãos, costureiras, sambistas e carnavalescos viam seu trabalho naufragar na incompetência criminosa da prefeitura de Belém.
Ao transferir o desfile das escolas de samba para a Avenida Marechal Hermes, ignorando solenemente a existência de um equipamento público construído para este fim – a Aldeia Cabana, a prefeitura condenou as agremiações a mais um episódio de humilhação, descaso e desrespeito crônico e continuado.
A avenida SEMPRE sofre com alagamentos em períodos mais chuvosos; e quando o toró vem combinado com maré alta, não precisa ser gênio pra saber no que vai dar. E deu.
Desfile cancelado; dinheiro público investido no aluguel da infraestrutura montada para o evento jogado fora; dezenas de trabalhadores da economia informal perdendo tempo e dinheiro porque o carnaval de Belém afunda na estupidez de uma gestão que coloca a cultura no lixo, no charco, na lama…
Numa cidade onde mais da metade da população tem renda média de até um salário mínimo, investir em cultura é política de promoção social.
Como ignorar a força motriz dessa Belém do carnaval, dos pássaros juninos, do carimbó, da guitarrada, do chorinho, do Arraial do Pavulagem, do Teatro dos grupos Cuíra, Experiência, Palha, Gruta, do projeto Ribalta, da Terra Firme; do cinema de Líbero Luxardo, Priscila Brasil, Roger Elarrat, Cássio Tavernard, Januario Guedes, Fernando Segtovick, Zienhe Castro – e é claro que para fazer esse valoroso inventário, teria que citar Verequete, Dona Onete, Mestre Vieira, Paulo Santana, Paes Loureiro, Adamor do Bandolim, Eneida de Moraes, Dulcinéia Paraense, Waldemar Henrique e tantos, muitos, centenas de artistas que nos significam como gente que pensa, ri, chora e se expressa em dança e música; fotografia e literatura; palcos e telas; ruas e terreiros.
Matar o ar carnaval por afogamento é nos matar aos poucos. Investir menos de 1% do orçamento municipal em Cultura é nos tirar a fala, a expressão, a identidade, a ancestralidade, o direito de ser quem somos.
Hoje é teu aniversário, Zenaldo.
De presente, te desejo noites de sono invadidas pelo assombro que nos entristece, ao ver que não bastaram 4 anos para destruires décadas de criação e arte; precisaste de mais 4 para o desfecho trágico ao qual nos condenaste: depois da queda, o coice.
Mas a gente muda isso!
Não perdes por esperar.

—�—�—�—�-

Ursula Vidal, porta voz da Rede Sustentabilidade, é jornalista e ativista social.