A pandemia do novo coronavírus (covid-19) impactou a preparação da seleção feminina de tênis de mesa para a Olimpíada de Tóquio (Japão), com poucas oportunidades das jogadoras competirem internacionalmente. Por isso, as titulares da equipe brasileira são unânimes em destacar, em entrevista à Agência Brasil, a importância das ligas nacionais que disputaram pelos clubes que defendem na Europa e que preencheram o calendário em meio à crise sanitária global.
#SeleçãoFeminina fará parte do museu da Arena Carioca 1!
As convocadas para #Tóquio2020, Bruna Takahashi, Jessica Yamada, Caroline Kumahara e Giulia Takahashi, autografaram bolinhas que estarão no acervo do museu da arena, no Rio de Janeiro ????
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— CBTM (@CBTM_TM) July 9, 2021
Brasileira mais bem colocada no ranking da Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF, sigla em inglês), na 48ª posição, Bruna Takahashi passou as duas últimas temporadas em Portugal, no Sporting. O clube foi vice-campeão da Taça de Portugal e semifinalista do Campeonato Português.
“Atuar lá fora é um passo muito grande. Fiquei muito feliz e agradecida ao Sporting pela experiência. Posso dizer que, sem a liga, meu Deus, teria sido muito mais difícil [a preparação]. Ajudou bastante a mantermos o nível e, de alguma maneira, sentir-se mais positiva para a Olimpíada”, disse Bruna.
Número dois do Brasil e 142º do mundo, Jéssica Yamada foi campeã da Copa da Rainha da Espanha pelo Reus Ganxets Miró e vice da liga da Suécia pelo Köpings. Apesar de ter sido o primeiro ano dela atuando pelas duas equipes, a temporada foi a nona da mesatenista na Europa. Seis das anteriores foram na França. Na equipe feminina, ela é a mais experiente no Velho Continente.
“A vantagem [de atuar nas ligas europeias] é estar em contato com atletas de bom nível o tempo todo. Isso é importante para a gente se manter ativa. Se não fossem as ligas, neste momento de pandemia, a gente não teria torneio internacional, então, como poderíamos competir contra esse nível se não estava tendo evento? Então, as ligas foram uma salvação para todas nós, tanto na parte de jogos, como de treino e financeiro, tudo que um atleta precisa”, descreveu Jéssica.
Terceira mesatenista do país no ranking da ITTF, no 144º lugar, Caroline Kumahara disputou pela primeira vez uma liga europeia. No Tecnigen Linares, da Espanha, foi vice da Copa da Rainha – inclusive, enfrentando Jéssica em um dos jogos da final contra o Reus Ganxets Miró. Ela também defendeu o Tennistavolo Norbello, da Itália.
“Foi uma experiência nova, desafiadora. Ao contrário do que as pessoas pensam, não é tão fácil encontrar lugar para treinar. Mas a questão da liga em si fez com que pudéssemos jogar bastante. Apesar de não termos campeonatos internacionais, para melhorarmos o ranking, ajudou muito a ganharmos ritmo de jogo”, sublinhou Caroline.
A seleção feminina se reuniu para a reta final da preparação olímpica na terceira semana de junho. A primeira fase das atividades foi na Arena Carioca, no Parque Olímpico do Rio de Janeiro. A segunda, no início de julho, ocorreu no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, antecedendo a viagem ao Japão, no último domingo (11). A delegação está em Hamamatsu, a 250 quilômetros de Tóquio, para uma fase de aclimatação, antes da ida definitiva à capital nipônica.
O tênis de mesa começa a ser disputado entre 24 de junho no ginásio metropolitano de Tóquio. O torneio individual feminino vai até o dia 29, com Bruna e Jéssica representando o país. A disputa por equipes vai de 1º a 5 de agosto. O chaveamento e os grupos das competições ainda não foram realizados.
Expectativas
Na seleção, a “veterana” é Caroline, de 25 anos, que disputará o evento pela terceira vez, igualando o feito de Lígia Silva – com quem esteve nos Jogos de Londres (Grã-Bretanha) em 2012, quando tinha apenas 17 anos – e se tornando a mulher brasileira com mais participações olímpicas no tênis de mesa. Ela também competiu na Rio 2016.
“Acho que em termos de [ter mais] experiência em Olimpíada [que as demais jogadoras da seleção], como a gente está sempre nos torneios, acaba não fazendo tanta diferença porque, no fim, os campeonatos são um pouco semelhantes, com os mesmos participantes. Claro que as estruturas são diferentes, mas acaba sendo um pouco parecido com os Jogos Pan-Americanos, por exemplo. Não me considero mais experiente que as meninas por ter jogado uma Olimpíada a mais, até porque estamos sempre juntas nos campeonatos”, avaliou.
Bruna, que faz 21 anos na próxima segunda-feira (19), tinha 16 na Olimpíada do Rio de Janeiro, a primeira da carreira. Curiosamente, a mesma idade da irmã, Giulia Takahashi, número 19 do ranking mundial sub-17 e convocada como reserva da seleção para Tóquio.
“Eu só joguei uma vez na Rio 2016, contra a então número 1 do mundo [a chinesa Li Xiaoxia, no torneio por equipes]. Sei que não foi nada fácil o jogo [vitória da rival por 3 sets a 0], mas gostei muito daquela atmosfera. Encarei-a como qualquer outra jogadora. Estarei mais preparada mentalmente em Tóquio e, como sempre, lutarei de igual para igual”, disse Bruna, que representou o Brasil na capital carioca ao lado de Caroline e de Lin Gui, chinesa naturalizada brasileira.
“Desde pequena tenho o sonho de ir a uma Olimpíada, ainda mais ao lado da minha irmão. Mesmo sendo reserva, é um sonho meio que sendo realizado. Será importante presenciar o que é uma Olimpíada, fazer parte da equipe e poder ajudar as meninas”, emendou Giulia.
Entre as titulares, Jéssica, de 31 anos, é a única estreante. Quis o destino que a primeira vez dela nos Jogos fosse no país onde viveu momentos importantes da vida pessoal e no tênis de mesa, coroando a volta por cima após o baque de ficar fora da equipe de Londres 2012.
“O Japão tem grande influência na minha carreira. Em 2003, fiquei lá três meses, quando fiz um estágio que meio que mudou minha vida. Meu primeiro Mundial adulto foi em Yokohama, em 2009. Depois, em 2014, fomos campeãs mundiais [por equipes] da segunda divisão em Tóquio. Poder jogar a minha primeira Olimpíada, com a idade que tenho, é uma realização enorme. Nunca desisti do tênis de mesa. Sempre me dediquei, mesmo fora da seleção. O ano de 2012 foi muito duro, então, quando a gente ganhou o pré-olímpico [em 2019, em Lima, capital peruana], eu não me aguentei e chorei muito, pois era algo que eu esperava muito”, concluiu Jéssica.