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Projeto prevê adequação de casas feitas em palafitas à maré cheia

Projeto prevê adequação de casas feitas em palafitas à maré cheia

Foto: Reprodução

Ainda aos oito anos de idade, quando morava na área de várzea do município de Juruti, José Coelho Batista se fazia um questionamento que, mais de 30 anos depois, lhe renderia a criação de um projeto inovador que alia tecnologia à sustentabilidade, a Casa de Várzea. “Por que a minha casa não é igual a um barco?”. A pergunta ecoava no imaginário do então menino sempre que o período de cheia do rio obrigava a sua família a se mudar.

Para que permanecesse acima da água mesmo no período da cheia, a palafita da família de José Coelho era elevada a dois metros de altura. A cada ano, porém, a cheia era mais severa e, com isso, a família era obrigada a levantar o assoalho mais e mais até que não houvesse outra saída além de deixar o local. “Desde criança eu sofri todas as problemáticas da várzea”, lembra. “Quando a cheia era grande e atingia o assoalho da casa, era muita cobra e jacaré rondando de noite. Algumas famílias que tinham um barco maior passavam a morar no barco e só voltavam pra casa no período da seca”.

A experiência vivida na infância e a observação da flutuação mantida pelos barcos foi justamente o que balizou a ideia que José Coelho desenvolveu já adulto, durante a faculdade de engenharia civil. Ele conta que logo no primeiro dia de aula, um professor de metodologia da pesquisa científica deixou uma dica no ar. “A palavra da vez é a sustentabilidade”, lembra o aluno. “Foi então que eu baixei a cabeça e comecei a escrever, de uma vez, toda a ideia do Casa de Várzea”.

PROJETO

No projeto idealizado por José Coelho, as tradicionais palafitas que suspendem as casas passam a abrigar um sistema de elevação hidráulica natural que faz com que o imóvel ‘flutue’ à medida em que o rio vá enchendo e que retorne à altura original na vazante. A aplicação da tecnologia em favor da sustentabilidade não parou por aí. Com base no projeto utilizado como trabalho de conclusão do curso, José Coelho montou a startup Várzea Engenharia. Inicialmente, ele atuava sozinho em um espaço de coworking, no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá.

O projeto foi ganhando adeptos e crescendo até que se tornasse uma startup, também instalada no PCT Guamá, e que hoje conta com uma equipe formada por engenheiros civis, navais, mecânicos, de controle e automação, eletricistas, além de arquitetos e advogados. O engenheiro civil Acácio Canto e o arquiteto João Castro Filho são sócios de José Coelho na empresa.

Com as contribuições de cada área, foi possível desenvolver outros conceitos sustentáveis para a Casa de Várzea. Além da estrutura flutuante, o projeto da casa conta com a geração de energia solar por painéis instalados no telhado; um biodigestor que trata os rejeitos orgânicos, produzindo o gás que abastecerá a cozinha e ainda um eficiente biofertilizante; sistema de comunicação ad hoc – tecnologia de rede sem fio que conecta vários dispositivos próximos – e ainda utiliza, na estrutura da casa, uma madeira biossintética desenvolvida pela própria startup.

A madeira em questão é produzida a partir de resíduos sólidos plásticos, como os comumente utilizados pela indústria de embalagens. José Coelho aponta que a madeira sintética é seis vezes mais resistente que a madeira natural, não é inflamável e tem durabilidade de aproximadamente 300 anos.

Na composição do material, mais um toque do conhecimento adquirido durante a infância ribeirinha de José Coelho foi aplicado. “No período da cheia ninguém podia ficar para fora de casa depois das 17h porque a quantidade de carapanãs era enorme. Então a minha mãe derretia parafina, colocava andiroba e fazia uma vela para acender e espantar os carapanãs”, lembra o idealizador do projeto. “Então eu pensei: vou adicionar andiroba na massa da madeira para que ela tenha esse efeito repelente também”.

Previsão

Escola de várzea

– A utilidade de todas essas ideias inovadoras já tem aplicabilidade prevista. Uma parceria firmada, por meio do Parque Tecnológico do Guamá, entre a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) e a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica (Sectet) com a Várzea Engenharia, pretende implantar ainda este ano a primeira Escola de Várzea no Pará na comunidade Urubuoca, região ribeirinha de Cotijuba.

Segundo informações da Seduc, “serão 6 salas de aula, além de outros espaços de convivência e pedagógicos, incluindo quadra coberta e área de recreação”. A secretaria aponta, ainda, que “a previsão é que a escola seja inaugurada em outubro deste ano” e que “a meta do Governo do Estado é inaugurar ao menos 10 Escolas de Várzea até dezembro deste ano em outros municípios do Pará”.

(Cintia Nolasco Magno/Diário do Pará)