Foto: Nailana Thiely/ Ascom Uepa
Com informações da UEPA
Estudos do Grupo de Pesquisa Tecnologia e Inovação para a Indústria de Alimentos (TECINOVA) da Universidade do Estado do Pará (Uepa), em Cametá, apontam que a goma extraída do buritizeiro é uma alternativa viável ao uso de gomas industrializadas, por ser uma matéria-prima que não agride o meio ambiente e que pode trazer benefícios econômicos e sociais.
As gomas, de plantas e animais, já são utilizadas no mercado como aditivo alimentar e insumo químico para a confecção de produtos industrializados. Elas dão viscosidade a alimentos ou diminuem a perda de água no processo de beneficiamento industrial. “Se olharmos os dados da composição de alguns produtos básicos que estão nas prateleiras de supermercados e farmácias, perceberemos que há a presença de gomas ou exsudatos beneficiados industrialmente na produção dessas mercadorias. Entretanto, eles são importados de outros países como, por exemplo, a goma arábica que vem do Sudão”, comenta o líder do Grupo de Pesquisa, professor Diego Aires.
O pesquisador em conjunto com a bolsista Ingred Viana são os autores da pesquisa denominada “Investigação das propriedades emulsificantes da goma de buriziteiro”, que analisa o princípio ativo, a estrutura da planta que produz a goma e os principais dados para estimar o quanto seria possível produzir por ano. A dupla realiza análises comparativas entre a goma do buritizeiro e a goma arábica, e investiga as propriedades funcionais para caracterizar a estabilidade da emulsão, a fim de que possa ser usada no mercado. “A goma do buritizeiro quando comparada com a goma arábica comercial apresentou resultados positivos e, diante disso, poderia ser viável para o agronegócio, para gerar fontes alternativas de renda e aumentar o número de empregos”, pondera a discente Ingred Viana.
A pesquisa demonstra que as cadeias polissacarídicas da goma arábica têm mais facilidade para se romper que as cadeias da goma do buritizeiro. Dessa forma, possuem maior quantidade de frações hidrofílicas superiores capazes de fazer ponte de hidrogênio com a água. Isso significa, portanto, que a goma utilizada como objeto de estudo da pesquisa apresenta maior capacidade de absorção de óleo. “Os dados alcançados ajudam a entender e direcionar aplicações para a goma do buritizeiro, porém o conhecimento da estrutura molecular e estabilidade térmica são importantes para melhor fundamentar e nortear o uso tecnológico de hidrocolóides que este trabalho propõe identificar”, afirma o professor Diego.
O uso intensivo de hidrocolóides, comumente chamados de gomas, pelo mercado, faz do buriti um insumo em potencial, integrante da identidade ecológica da região amazônica e que pode ser estudado e aplicado no lugar de outros componentes que precisam ser importados para serem utilizados. “Como bem sabemos, o Estado do Pará é rico em matéria-prima e possui uma grande diversidade de insumos que ainda não foram explorados, um exemplo disso é a matéria-prima utilizada na pesquisa. Pouco se encontra na literatura estudos sobre as propriedades emulsificantes da goma do buritizeiro, e investigando esses substratos oriundos da nossa região podemos não só trazer credibilidade, mas também um grande potencial socioeconômico para o Estado do Pará”, afirma a bolsista Ingred Viana.
“Estamos numa região que é muito propícia para termos a utilização de novas matérias-primas da biodiversidade amazônica e a Uepa está inserida nesse contexto, pois ela é interiorizada. Por exemplo, Cametá está no meio da floresta e ao redor das ilhas, lugar onde tem esses materiais de forma abundante e que são símbolos da identidade paraense. É perceptível que o estímulo do olhar científico direcionado para a floresta amazônica é necessário para a formação de uma consciência acadêmica, política, social e cultural sobre a Amazônia”, defende o orientador do grupo.
Os dados da pesquisa sobre o buritizeiro estão sendo expandidos para uma patente, que está em andamento, sobre o uso da goma para o beneficiamento industrial. A proposta é estimular a produção de insumos do mercado alimentício e farmacológico e na cosmetologia. Os pesquisadores também buscam estimular ainda uma transição no olhar sobre o uso dessas gomas pela indústria, que culturalmente tem utilizado matérias-primas importadas e que não dialogam com as características da identidade local.
Além do buriti, de acordo com o professor Diego Aires, há outras palmeiras da região amazônica que podem ser utilizadas em pesquisas científicas ou em processos de produção de produtos industrializados. Segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), na Amazônia existem mais de 227 espécies de palmeiras que, consequentemente, podem ser utilizadas como insumos e assim gerar renda para as áreas rurais do território paraense.
Sobre o Buriti – O buriti ou miriti (Mauritia flexuosa) é uma planta de ampla distribuição no território nacional. Pode alcançar até 30 metros de altura e ter um caule com espessura de até 50 centímetros de diâmetro. A espécie habita terrenos alagáveis e brejos de várias formações, sendo encontrada com muita frequência nas veredas, importante fitofisionomia do Cerrado. O buriti floresce quase o ano inteiro, mas principalmente nos meses de abril a agosto. A produção de frutos é intensa. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) são produzidos cinco a sete cachos por ano, cada um destes com 400 a 500 frutos.
Existem buritis machos e fêmeas. Os primeiros produzem cachos que apenas resultam em flores. Já no caso das fêmeas, as flores se transformam em frutos. Ainda assim, é preciso aguardar aproximadamente um ano para que os frutos estejam maduros e aptos para a colheita, o que ocorre entre os meses de dezembro e fevereiro.
A casca dura do buriti é uma proteção natural contra predadores e contra a entrada de água. A polpa do fruto é saborosa e possui coloração alaranjada, sendo acompanhada, em geral, de um caroço, que é a semente da espécie. Em alguns casos, no entanto, podem ser encontrados dois caroços ou nenhum. A colheita do fruto é trabalhosa, requerendo que estejam maduros e sejam colhidos do chão, após terem caído naturalmente. Alguns coletores cortam os cachos no pé do buriti, assim que os frutos amadurecem e começam a cair.