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Ex-ministros do Meio Ambiente lamentam exoneração de diretor do Inpe

Ex-ministros do Meio Ambiente lamentam exoneração de diretor do Inpe

Foto: PAULO WHITAKER / Agência O Globo

Por Gabriel Shinohara e Bruno Goés, O Globo

BRASÍLIA – O processo de desgaste entre Jair Bolsonaro e Ricardo Galvão, que culminou nesta sexta-feira na exoneração do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( Inpe ), foi lamentado por ex-ministros do Meio Ambiente. Carlos Minc, Rubens Ricupero e José Carlos Carvalho fizeram uma defesa incondicional do papel do órgão para o combate ao desmatamento na Amazônia.

Carlos Minc, que foi ministro do Meio Ambiente entre 2008 e 2010, criticou a exoneração do diretor do Inpe e a postura do presidente Jair Bolsonaro quanto ao desmatamento. Ele afirmou que os dados do instituto foram essenciais para o planejamento de redução do desmatamento na Amazônia na sua gestão e que Bolsonaro “atinge a idoneidade” dos cientistas.

— Em todas essas linhas o Inpe foi essencial, então eu fico realmente pasmo, é inacreditável. O Bolsonaro, aquilo que ele não gosta do resultado, que quebre o termômetro — disse o ex-ministro.

O atual deputado estadual do Rio de Janeiro, pelo PSB, afirmou que a política do presidente contra o desmatamento é “demitir o diretor do órgão que diz que o desmatamento aumentou”.

— É assustador a velocidade com que ele está conseguindo destruir o que foi construído durante todos esse anos. É o próprio exterminador do futuro, ele está conseguindo rapidamente ser o exterminador do futuro sustentável — completou.

“Atentado contra meio ambiente”

O embaixador Rubens Ricupero foi ministro da pasta durante o governo Itamar Franco e disse que as atitudes de Bolsonaro e do ministro Ricardo Salles estimulam o desmatamento. Ele afirmou que a exoneração de Ricardo Galvão é “mais um atentado tanto contra o meio ambiente, como contra a ciência”.

— Essa atitude de demitir o diretor se deve ao fato que ele teve a coragem de defender a correção dos dados que mostraram um agravamento do desmatamento nos últimos tempos, é uma atitude típica de um governo que quer negar a evidência dos fatos — afirmou.

Engenheiro florestal, Carvalho acrescenta que todos números indicam que o desmatamento está aumentando.

— A demissão envia o sinal de que o governo acha o desmatamento aceitável.

O ex-ministro avalia ainda que as atitudes tomadas pelo governo Bolsonaro deixam o Ibama em inércia, quando o órgão deveria estar mais empenhado na fiscalização do desmatamento na Amazônia.

Ricupero mostrou preocupação quanto à imagem do Brasil no exterior. Ele afirmou que ela já é a “pior possível” e exonerar o diretor do Inpe agrava a situação. O embaixador também alertou sobre a sucessão de Ricardo Galvão no cargo ao dizer que provavelmente escolherão alguém desqualificado.

— A julgar pelo o que aconteceu no caso do Ibama, do Instituto Chico Mendes e outras instituições, provavelmente vão mandar uma pessoa desqualificada. É provável que no caso do Inpe também vão escolher uma pessoa que não tem qualificação porque eu não vejo nenhum cientista respeitável que possa se prestar a um papel de falsificar os dados — disse.

Para o ex-ministro do Meio Ambiente de Fernando Henrique José Carlos Carvalho (2002), a demissão demonstra que Jair Bolsonaro lidera um movimento de “negação à ciência”.

— A demissão é lamentável, não pela exoneração em si, mas pela forma e pelas razões que ocorreu. O presidente, mal assessorado, ignora levantamentos científico reconhecido há décadas nacional e internacionalmente — diz Carvalho.