Foto: Divulgação / Tyago Tompson
Por Taymã Carneiro, G1 Pará
A atriz e drag paraense Flores Astrais estreia o canal “Prazer, Flores!” em uma plataforma de vídeos na internet. O projeto consiste em divulgar vídeos todas as quintas-feiras, às 21h, para falar sobre gênero, sexualidade e outros temas relacionados à comunidade LGBTQ+, com ‘montação’ e bom humor. O lançamento é às 19h desta quarta-feira (7) em um espaço cultural de Belém.
Em entrevista ao G1, Flores Astrais conta sua trajetória como drag, performer e mestre de cerimônias, atuando no cenário paraense. “A arte drag discute imagem e comportamento, e é uma revolução em meio à sociedade brasileira tão engessada em sua colonização”, descreveu.
“Se montar é se libertar de amarras que nos limitam. É, antes de tudo, um ato político”.
Nascida em Belém, a artista, de 24 anos, cursou licenciatura em teatro e técnico em atuação na Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente, mora em Barcarena, no nordeste do estado. “Sou um corpo trans feminino não binário”.
“Comecei a me montar em 2013 nas noites de Belém onde realizei, montada, por dois anos a festa ‘Viada Cultural’ no antigo 8 Bar. Nesse mesmo período, conheci a produção do coletivo NoiteSuja, ainda na primeira edição da festa, e encontrei aí um espaço para dividir minha vivência com outras drags”, contou.
Para Flores, a ‘montação’ veio de uma necessidade de se expressar artisticamente, com possibilidades para além do teatro. “Acabei encontrando o espaço para mergulhar na minha feminilidade e resignificar meus entendimentos de gênero e identidade”, explicou.
Sobre a arte drag, Flores descreve como uma “expressão artística que carrega em si a genética de quem a cria”. Para ela, o que se destaca na base da criação é o próprio corpo e a relação estética e comportamental. “Isso nos leva a camadas de uma criação artística muito intimista”.
Transição pela arte
O cenário de Belém é marcado por diversas vertentes de arte LGBTQ+. Dentro disso, surgem as drags autodenominadas “Themônias”, que, segundo Flores, é um conceito criado pela cena de montação na cidade. “Foi na montação de drag que encontrei uma via direta para minha transição de gênero, assim, o que era expressão artística da minha personalidade acabou por ser um grande laboratório para expressar meu real eu socialmente. Foi quando Flores deixou de ser nome da minha drag e passou a ser meu nome social”, revelou.
A união de drags “Themônias” se transformou em coletivo. Assim, surge o NoiteSuja, que para Flores é “uma grande família”. “Acredito muito na força do fazer coletivo da arte, vim do teatro e assim aprendi a produzir, em coletivo. Nessa intensa retroalimentação de ter o trabalho das pessoas que estão próximas como referência se construiu um movimento artístico muito único em sua expressão. A partir das vivências na NoiteSuja podemos chegar ao denominador comum da Themônia em nossos trabalhos”, contou.
Flores disse que a cena drag de Belém se destaca pela peculiaridade das produções, “muito fruto da grandiosidade que permeia a criação do paraense, com suas lendas até a exuberância das aparelhagens, e do local geográfico”. “Tenho visto a montação ocupar cada vez mais lugares, levando o público para festas, mas também é preciso questionar seu real valor artístico político”, comentou.
Acho que ainda é preciso atentar mais ao discurso que está para além do ‘close’. Nossa arte carrega realidades, não à toa a ideia de Themônias vem da demonização que os nossos corpos passam todos os dias na sociedade hetero-cis-normativa”.
Flores explica que drag vem da paixão pela arte. “Meu processo com a maquiagem é bem próximo do desenho e da pintura, é bem mutável e varia com meu humor, mas o que se mantém constante é a paixão. Já me montei até em cozinha de restaurante, tudo pelo amor à montação”.
Dos palcos para o audiovisual
As festas com performances drag são marcadas pela reunião de artistas de diversas vertentes e são comandadas por drags que apresentam e coordenam a ordem das apresentações. Flores, além de estar em muitos eventos deste tipo, já apresentou festivais, eventos e participou de outros espaços. Para ela, apresentar é o seu “maior tesão dentro dos espaços das festas”. “Sempre fui apaixonada pelo encontro e diálogo com o público, muito herança do teatro. A cena drag na cidade foi crescendo e cada uma ocupando os espaços com suas habilidades, a minha é apresentar!”.
Flores revelou que a ideia do canal começou em suas apresentações. “A ideia do canal partiu de Adelaide Oliveira, que divide a direção do projeto com o Tyago Thompson. Ela me viu apresentando eventos e me disse que eu tinha que ter um programa. Aí foi amor a primeira ideia!”. Depois disso, a ideia do projeto contou com a execução pela Melé Produções e Treme Filmes, quando começaram as filmagens.
“Esse projeto é um espaço de responsabilidade para com os meus, para poder viabilizar a pluralidade de nossas vozes e é, antes de tudo, uma conquista de território”, descreve.
Serviço
Lançamento do Canal Prazer, Flores!, com drags Djs Kawa Tsunami e Shayra Brotero + pocket show de Flor de Murué e Helena Ressoa
Data: 07 de agosto
Hora: 19 horas
Local: Ná Figueredo – Gentil Bittencourt, 449
Entrada franca