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Deltan Dallagnol nega pressões para deixar comando da Lava Jato: ‘Questão de família’

Deltan Dallagnol nega pressões para deixar comando da Lava Jato: ‘Questão de família’

Foto: RPC/Reprodução

O procurador da República Deltan Dallagnol, que deixou nesta terça-feira (1º) o comando da Operação Lava Jato em Curitiba, negou que a saída dele tenha ligação com pressões relacionadas à atuação da força-tarefa.

Em entrevista à RPC, ele disse que a decisão é estritamente familiar. Dallagnol explicou que a filha de 1 ano e 10 meses apresentou sinais de problemas no desenvolvimento e que precisará da dedicação dos pais no tratamento.

“Pressões sempre existiram, existem e vão continuar existindo na Lava Jato. Nossa história mostra que sempre encarou essas pressões com coragem, determinação, trabalho, resiliência e pedindo ajuda da sociedade, que a gente sempre teve”, afirmou.

De acordo com o procurador, o problema de saúde da filha, que ainda não tem diagnóstico, “atropelou todas as outras questões”. Leia mais abaixo sobre a situação da filha.

“Temos 14 procuradores da Lava Jato. Agora, pai e mãe da minha filha pequena são só eu e minha esposa. É uma questão da família de dar atenção à saúde dela nesse momento tão importante e precioso pro desenvolvimento dela”, afirmou.

Conforme o MPF, o procurador da República no Paraná Alessandro José Fernandes de Oliveira vai assumir as funções de Deltan Dallganol, que, por sua vez, terá as atribuições deixadas por Oliveira.

Força-tarefa

A estrutura da força-tarefa da Lava Jato no Paraná foi criada em abril de 2014, um mês após a primeira operação ter sido deflagrada.

Desde então, segundo o documento enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR), os trabalhos foram renovados sete vezes – o prazo atual terminaria em 10 de setembro.

Porém, nesta terça, em uma decisão provisória, a subprocuradora-geral da República Maria Caetana Cintra Santos determinou a prorrogação por mais um ano dos trabalhos da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba.

Em julho deste ano, houve atrito entre a força-tarefa e o procurador-geral da República, Augusto Aras, que disse ser necessário “corrigir os rumos” para que o “lavajatismo não perdure”.

Na entrevista, Dallagnol negou qualquer tipo de interferência da PGR no processo de substituição dele.

“Não existe nenhuma interferência externa nessa decisão. Teve abertura de uma consulta para que qualquer procurador da República lotado em Curitiba manifestasse o interesse de assumir a Lava Jato. E apenas ele [Alessandro] manifestou interesse”, explicou.

Segundo ele, o cargo não poderia ter sido assumido por outro procurador da força-tarefa por não estarem lotados na capital paranaenses, embora estejam designados para a atuação na Lava Jato.

O ex-coordenador da força-tarefa classificou o substituto como “competente, responsável e sempre apoiador da lava jato, alguém que a gente confia que vai seguir com o trabalho de forma independente”.

O procurador também falou que tinha a expectativa de que a atuação da Lava Jato seja renovada pela PGR, independentemente da saúde dele – ainda sem saber da decisão liminar. “É para isso que aponta o interesse público. A decisão cabe ao Augusto Aras”, disse.

Deltan Dallagnol assinou diversas denúncias da operação contra empresários e políticos. Entre essas denúncias, estão as contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo o MPF, 543 pessoas foram denunciadas em 217 acusações criminais apresentadas pela força-tarefa liderada por Dallagnol. 166 pessoas acabaram condenadas pela Justiça nestes processos.

Processos disciplinares

Deltan Dallagnol tem dois processos disciplinares abertos contra ele no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e que estão suspensos.

Na segunda-feira (31), a Advocacia-Geral da União (AGU) argumentou junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) que há o risco de prescrição de um processo disciplinar aberto no CNMP contra Deltan Dallagnol. Um processo prescreve quando se esgota o período previsto em lei durante o qual pode haver alguma sanção.

De acordo com a AGU, o processo que discute se Deltan Dallagnol cometeu infração disciplinar por ter supostamente tentado interferir na disputa à presidência do Senado, com postagens contra o senador Renan Calheiros (MDB-AL), deve prescrever no dia 10 de setembro.

O ministro Celso de Mello havia suspendido a tramitação do processo, porque entendeu que existiam problemas na tramitação do processo no conselho e ressaltou que membros do MP têm liberdade de expressão.

O outro processo, também suspenso por Mello, trata-se de um pedido de remoção apresentado pela senadora Kátia Abreu (PP-TO).

Nesse processo, a senadora afirmou que Deltan Dallagnol já foi alvo de 16 reclamações disciplinares no conselho, deu palestras remuneradas e firmou um acordo com a Petrobras para que R$ 2,5 bilhões recuperados fossem direcionados para uma fundação da Lava Jato.

Situação da filha

Dallagnol explicou que há algumas semanas ele a esposa notaram sinais de algum problema com a filha mais nova, de 1 ano e 10 meses. Segundo ele, a menina está, por exemplo, deixando de falar palavras que já sabia e de olhar para os pais quando chamada.

Ainda não há um diagnóstico para o caso dela, que realizou uma série de exames, conforme o procurador.

“[Médicos] já recomendaram imediatamente tratamento com terapias. Intervenção precoce é o melhor modo de garantir o desenvolvimento saudável de crianças em relação aos pais que identificam esses problemas”, afirmou.

Ele disse ainda que uma especialista indicou cerca de 40 horas semanais de terapias – que também envolvem os pais. Apesar de continuar como procurador, Dallagnol explicou que fora da Lava Jato terá mais tempo para a família.

“Isso vai exigir atenção muito grande minha e da minha esposa. É algo que só nós podemos fazer por ela”, indicou.

Ele disse que continuará atuando no combate à corrupção e que tem segurança de que o trabalho da força-tarefa seguirá a ser desempenhado. “Me sinto muito tranquilo seguro coma decisão tomada, de que foi a coisa certa a fazer. Minha filha precisa de mim. Existem procuradores que podem fazer o trabalho”, concluiu.

Por Marcelo Rocha e Ederson Hising, RPC Curitiba e G1 PR