Cirurgia inédita na rede pública do Estado para alívio da dor crônica é realizada no Hospital Abelardo Santos

Foto: Rodrigo Pinheiro/Agência Pará

Há três anos convivendo com dor crônica, o auxiliar de pedreiro Maikon Sales da Silva, de 26 anos, caiu da escada e se acidentou durante o trabalho no município de Concórdia do Pará, distante 130 quilômetros da capital paraense. O acidente evoluiu para hérnia de disco, ocasionando grave comprometimento da coluna lombar. 

“Após o primeiro procedimento em outro hospital, adquiri a dor neuropática crônica, onde ela acomete 10% da população que se opera de hérnia de disco. E como o meu nível de dor era muito alto, chegando a 10, 11 e 12, desmaiava de dor, tinha convulsão, tomava remédios fortíssimos e não adiantava. Após estudos sobre o meu caso, os médicos indicaram o estimulador de medula”, explicou.

Paciente do Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), no distrito de Icoaraci, em Belém, há dois anos, Maikon ganhou vida nova em janeiro deste ano. A equipe de neurocirurgia da unidade realizou o procedimento inédito de estimulação medular para alívio da dor.

Vida nova – No dia 28 de dezembro de 2023, o paciente internou na unidade para se preparar a cirurgia, que aconteceu no dia 4 de janeiro deste ano. “Depois que fiz a cirurgia e coloquei o estimulador, melhorei 90%. A dor que era 10, agora posso dizer que ela fica entre 2 e 4.c Hoje, nem tomo mais medicação. Sou um vencedor”, comemorou.

O auxiliar de pedreiro contou que o atendimento no Abelardo Santos foi ótimo e desde o início foi bem assistido e cuidado. “Tudo ocorreu bem na cirurgia. Logo depois, fiz um teste levantando os meus pés e, por incrível que pareça, consegui levantar mais alto o lado esquerdo, que antes era o mais prejudicado. No outro dia, já andei, tomei banho sem a ajuda da muleta que, devido as dores, eu não conseguia sem esse apoio. Conviver com dor, não é nada fácil. Agradeço a Deus, ao meu pai que me acompanha sempre e a toda equipe do hospital. Agora só quero voltar para casa e ver a minha filha”, disse emocionado.

Tecnologia – A cirurgia foi conduzida pelos neurocirurgiões Marcos Rodrigo Eismamn e Adriano Morais, que destacam os benefícios e sucesso do procedimento no paciente.  Morais, ressalta que Maikon tinha dor crônica intratável e que na escala de dor, a dor do paciente era sempre maior que oito, e a única opção foi indicar o estimulador medular.

“O estimulador medular é uma técnica relativamente recente e que nós ainda não tínhamos feito no hospital. Durante o procedimento, é implantado um eletrodo na medula, que fica dentro da nossa coluna vertebral, na medula nervosa. Esse eletrodo é ligado a um gerador que fica implantado por dentro da pele e fica emitindo uma energia, que vai do gerador até o eletrodo e esse impulso elétrico é jogado diretamente em cima da medula e faz aliviar a dor” detalhou.

O profissional ainda reforça que o objetivo do procedimento é tentar impedir que a dor chegue até o cérebro e faça a modulação da dor, mas que os mecanismos da estimulação medular que faz essa modulação ainda são uma incógnita para equipe. “Podemos dizer que vai desde mascarar a dor, causando uma espécie de parestesia e também pode causar uma modulação central, chamada antidrômica, mesmo assim ainda é um mecanismo um pouco desconhecido. É uma cirurgia de alto custo, mas também um procedimento relativamente simples, com duração de duas horas em média, geralmente o paciente não precisa ir para UTI. A recuperação é rápida e o implante tem duração em média de 10 anos, fazendo essa estimulação. A melhora da dor em alguns pacientes é de mais 80%, ou seja, bastante significativa de uma dor que antes nada melhorava”, ponderou.

Estudo e pesquisa

O Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP) do HRAS vem desenvolvendo estudos científicos pautados nas experiências dos pacientes atendidos na unidade, visando evidenciar o trabalho seguro e de qualidade desempenhado pelas equipes multiprofissionais.

Como o uso da estimulação de nervos periféricos no tratamento das síndromes dolorosas crônicas tem mostrado resultados promissores, e o desenvolvimento de novos materiais é extremamente necessário para a evolução da técnica e o tratamento dessas síndromes dolorosas crônicas, a unidade já tem planos.

“Nesse sentido, novos e mais abrangentes estudos são necessários, principalmente, visando a expansão dos possíveis usos dos eletrodos de estimulação espinal e a diminuição de seus custos, tornando-os mais acessíveis ao público. E essa produção cientifica será apresentada num dos maiores congressos da cidade de São Paulo”, adiantou a enfermeira do DEP, Brenda Tanielle.

 A diretora técnica do HRAS, Barbara Freire, enfatiza que a unidade conta com parque de equipamentos específicos para neurorradiologia e neurocirurgia, para oferecer uma assistência segura a população paraense que precisa realizar procedimento na unidade. ”Temos tecnologia de ponta e profissionais altamente qualificados, possibilitando uma assistência de qualidade e procedimentos minimamente invasivos e resolutivos, além disso, investimos em ensino e pesquisa para melhorar nosso conhecimento e técnicas”, destacou.

Referência – O serviço de neurorradiologia intervencionista é ofertado por apenas alguns centros no Brasil. No Pará, o HRAS é um Centro Formador da especialidade, assim como o Hospital Ophir Loyola, também na capital paraense. O que significa dizer que a unidade é responsável pela formação acadêmica de médicos especialistas na área da neurorradiologia, devidamente reconhecido pela Sociedade Brasileira de Nerorradiologia/ Colégio Brasileiro de Radiologia (SBNR/CBR). O HRAS também faz parte da formação de especialistas ofertado pelo Centro de Treinamento Especializado em Neurovascular da Amazônia, reconhecido e chancelado pelo MEC e SBNR/ CBR. Dessa forma, o Abelardo Santos mantém o selo pelas iniciativas educacionais e acadêmicas, associadas ao papel social no país.

Serviço: Os procedimentos são 100% gratuitos e encaminhados através da Regulação Estadual. O Hospital Abelardo Santos é administrado pelo Instituto Mais Saúde, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).

Por Agência Pará