Arara, macaco, sapo, jacaré e boto são algumas das fantasias que o público poderá conferir na exposição “De Cametá à Belém: Caminhos da Bicharada de Mestre Zenóbio”, abriu na ultima quinta-feira, 25, no hall Ismael Nery, no prédio sede da Fundação Cultural do Estado do Pará (FCP).
A mostra marca o início da programação do Carnaval 2018 da FCP que contará ainda com o Desfile da Escola de Samba Crias do Curro Velho, agendado para o dia 3 de fevereiro, e dos bailes populares de carnaval que serão realizados na praça do Artista do Centur, nos dias 9 e 10 de fevereiro.
Bicharada – Mestre Zenóbio Gonçalves tem 70 anos e há 43 se dedica na arte de produzir fantasias de animais. Em Juaba, Cametá, essas fantasias tomam a proporção de manifesto ecológico na Bicharada criada em 1975 por Mestre Zenóbio.
Segundo a apresentação da exposição feita pelo técnico em gestão cultural da FCP, Renato Torres, o desejo de aliar a preservação da natureza com a manifestação popular do folguedo foi tomando forma nas mãos do Mestre artesão. Zenóbio partiu de materiais que incluíam restos vegetais, sarrapilheira e malva, até chegar aos insumos sintéticos industriais (pelúcia, isopor, TNT, espuma). “Isso permitiu um aprimoramento da técnica, e a criação de ‘esculturas vivas’ de fidelidade impressionante, que podem ser comparadas aos parangolés e penetráveis de Hélio Oiticica: uma obra que se veste e que se faz vibrar, um espaço que se preenche com movimento e festejo; uma alegoria que explode em alegria carnavalesca”, comenta.
Prêmio – Reconhecido em 2017 pelo Prêmio Manifestações Culturais da Fundação Cultural do Pará (FCP), Mestre Zenóbio relata que toda esta diversidade de animais da fauna, principalmente amazônica, foi criada com o objetivo de conscientizar a sociedade da relação homem – natureza, aproximando as espécies do mundo animal com as pessoas, abrindo os olhos da sociedade para a importância da preservação ambiental. “Queríamos trazer uma mensagem da floresta para as pessoas, mostrando as dificuldades dos animais com a devastação das matas, com a poluição ambiental e como eles sobrevivem”, diz.
Com o passar dos anos e diversas apresentações, o fundador do cordão acredita que a união entre o homem e natureza foi alcançada. No começo, ele conta que o público ainda se assustava bastante com os animais gigantes que invadiam a cidade para animar a população. Atualmente, segundo ele, é tudo bastante diferente.
“Hoje em dia, aonde quer que a gente se apresente, é uma felicidade. Crianças, jovens, adultos e idosos se unem aos bichos. As pessoas tinham medo da gente. Nós tínhamos uma regra de não tirar as máscaras e fantasias após o desfile porque queríamos conquistar o povo como bicho e não como gente”, afirma.
Segundo o Mestre Zenóbio, com tanto tempo de tradição, cada vez mais pessoas procuram participar do cordão. O que começou com cerca de 20 bichos, hoje já conta com 120 representações animalescas de várias espécies. “Só desfilávamos em comunidade pequenas. Mas diversas vezes recebemos convites para desfilar em avenidas e tivemos que criar fantasias maiores, mostrando vários animais diferentes. E é muita gente que quer participar”, revela.
Exposição
O Cordão da Bicharada impressiona. A delicadeza dos detalhes na construção de cada bicho é fascinante. E para quem quer ver de perto cada bicho, a Fundação Cultural do Pará, por meio da Diretoria de Interação Cultural (DIC), promove esta exposição gratuita ao público, a partir do dia 25 de janeiro, no hall Ismael Nery, no Centur.
Quem quiser conhecer o trabalho do Mestre Zenóbio pode participar do workshop “Por trás da fantasia” que será realizado durante a abertura da exposição foi ontem, 25.