Sommelier desmistifica o consumo e dá dicas para acertar nas escolhas
Não é de hoje que degustar um bom vinho é sinal de sofisticação, e as recentes descobertas da ciência acerca dos benefícios de uma taça diária de vinho tem dado ênfase a essa bebida. Quem jamais se apeteceu por vinhos começa a se ver refém, já que, além dos apreciadores natos, surge também uma leva de influenciados digitais, que precisa beber vinho para socializar.
Segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho, enquanto a economia nacional desacelera, nos últimos anos, o consumo de vinhos de mesa cresceu 7,26% e cerca de 18% se considerados vinhos finos, de mesa e outros derivados da uva e do vinho.
O vinho, apreciado, principalmente, pelas mulheres, ocupa o segundo lugar no consumo nacional, perdendo apenas para a cerveja.
Para a sommelier Francisca Oliveira, com formação na Somm Academy, Senac SP, Wine School, Embrapa RS, ABS SP, entre outros cursos livres, há vida além do tinto seco, aliás, excelentes e premiados vinhos doce, rosé e branco. A partir do seu vasto conhecimento técnico e experiência, Francisca desmistificou muitos dos valores vinculados ao vinho.
“Será que vinho bom é somente vinho tinto seco? Várias pessoas sofrem uma espécie de bullying por gostar de vinho doce, rosé ou branco. Afinal, no senso comum, esses seriam os vinhos femininos e as opções mais populares. Entretanto, vinhos não tem gênero. Eles tem personalidade. E tão pouco é o sabor amadeirado que faz dele um vinho distinto”, explica a sommelier.
Beber vinho transcendeu a tradição e virou um modismo, entre cursos e degustações, que não são capazes de tornar alguém um sommelier de vinhos, mas que deixam os seus participantes aptos a fazerem escolhas mais diversificadas e fugir do senso comum, a partir de mais informações.
Nos últimos meses, vimos um boom de wine house em Belém. Modismo à parte, tudo indica que o paraense tomou gosto pelo vinho.
“Acredito que o paraense finalmente descobriu os encantos do vinho e que é possível degusta-lo com o auxílio dos profissionais. Tanto que observamos que o consumo de vinhos cresceu bastante. O reflexo disso é o aumento
cada vez maior de espaços nessa área, em Belém”.
Falando nisso, o vinho tinto caiu no gosto do paraense. De longe é o mais vendido. “Uma uva que caiu na predileção do belenense é a Primitivo. O vinho mais indicado para o nosso clima, ora quente, ora úmido, são os vinhos mais leves, como espumantes, brancos e rosé, que tem mais refrescância e leveza.Não descartando, também, os tintos leves e de fácil consumo”.
Francisca Oliveira dá algumas dicas e ensinamentos que podem ser muito úteis ao beber entre amigos ou em casal.
“O espumante, que é uma das bebidas mais versáteis que existem, também é indicado para o nosso clima, podendo ser servido na praia, na piscina, durante o brunch e em comemorações, de um modo geral. Os nacionais são de excelente qualidade. Vários, inclusive, são premiados no exterior. Para reconhecer a qualidade de um bom espumante, é necessário sentir um delicado aroma de “fermento de pão”. As borbulhas de gás carbônico que se formam no espumante, chamadas de perlage, numa boa bebida, são uniformes e concentradas no meio da taça”, explica.
“Beber vinho é um ritual. Há muitos detalhes envolvidos na degustação. Vinho branco, que é uma ótima opção para os dias quentes, é servido gelado. Quanto ao vinho tinto, no Brasil, devido ao calor, não pode ser servido à temperatura ambiente.
Próximos de celebrar a Páscoa, quando a estrela da mesa da maioria das famílias brasileiras é o bacalhau e sobremesas com chocolate, são muitas as possibilidades de vinhos coringas, que podem funcionar com diferentes combinações. Além do próprio espumante, para o domingo de Páscoa, Francisca sugere os rosés, nos vinhos verdes e naqueles à base da Uva Pinot Noir. “E, para as famílias judias, que celebrarão o Pessach, sugiro
os vinhos Kosher, tinto e branco, Yarden Hermon. Uma coisa é certa. O vinho brasileiro não fica a dever aos estrangeiros. Inclusive, atualmente, há vários vinhos brasileiros premiados. O problema são os impostos, que eleva os nossos preços, deixando-os mais elevados do que os estrangeiros”, lamenta a sommelier.