Foto: Celso Rodrigues/DOL
Por Alexandra Cavalcanti, DOL
Uma pesquisa feita pela VIVA Inquérito e divulgada este mês mostra uma triste realidade: a cada 10 atendimentos por acidente de transporte realizado por hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), 8 estavam utilizando motocicletas e, destes, a maioria eram jovens do sexo masculino, na faixa etária entre 20 e 39 anos. Para atender as ocorrências relacionadas a acidentes de trânsito em geral, incluindo 183,4 mil internações, o SUS precisou desembolsar R$ 265 milhões. No ano anterior, o número de internações foi 181,2 mil ao custo de R$ 259 milhões, sendo que mais de 50% das internações envolveram motociclistas.
No Pará, os números acompanham o que diz a pesquisa nacional. No Estado, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), até meados deste mês de dezembro, o Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), localizado no município de Ananindeua, especializado no atendimento de casos de traumas de média e alta complexidades, fez cerca de 14 mil atendimentos, destes, 3.700 foram de vítimas de trânsito, sendo 20% delas, envolvidas em acidentes com motocicletas. “Tivemos um gasto com saúde pública este ano de cerca de R$ 2 bilhões e 200 mil, sendo que, desse valor, entre R$ 200 a R$ 300 milhões foram gastos com acidentes de trânsito, principalmente com motocicletas. Um valor que deve crescer cada vez mais, infelizmente”, destacou o titular da Sespa, Alberto Beltrame.
SITUAÇÃO GRAVE
O gestor classifica a situação como “gravíssima”. “É uma questão de saúde pública muito grave, mas que poderia ser evitada com medidas que dependem não só dos governos, mas também do envolvimento da sociedade em geral”, ressaltou.
Ele destacou ainda que o problema vai muito além dos gastos públicos para recuperar os acidentados. “Geralmente, nos acidentes com motocicletas se machucam duas, três pessoas, que trafegam com as motos e sem equipamento de proteção individual. E além do prejuízo material, há a perda do bem humano. O paciente deixa de trabalhar e há uma desestruturação familiar por causa do acidente”, enfatizou.
NÚMEROS
20 a 39 anos – É a média de idade dos jovens, a maioria homens, que se envolveram em acidentes com motocicletas este ano, no SUS.
16 mil – No ano passado, o HMUE chegou a atender quase 16 mil pessoas oriundas de 25 municípios paraenses.
4.100 – Mais de 4.100 casos (25% do total) foram em decorrência de complicações no trânsito, causadas por colisões de automóveis (40%); acidentes de moto (38%); atropelamento (17%); e acidentes com bicicletas (5%).
2 mil – No primeiro semestre de 2019, as estatísticas não recuaram e continuam crescendo. Das mais de 7.700 pessoas atendidas até junho, quase 2 mil casos estiveram relacionados à insegurança no trânsito. Foram registradas 801 ocorrências de colisões de automóveis (41%); 692 acidentes com motocicletas (35%); 352 atropelamentos (18%); e 94 envolvendo bicicletas (5%).
Conscientização e educação ajudam a reduzir gastos

Para se diminuir os acidentes com motociclistas e reduzir os gastos com eles, que poderiam ser direcionados a outros pontos na área da saúde, inclusive na prevenção, o secretário de Estado de Saúde Pública, Alberto Beltrame, acredita ser necessário investir em mais conscientização e educação.
“Esse problema precisa ser enfrentado através da educação no trânsito, da conscientização do uso de equipamentos de segurança como o capacete e o combate à alcoolemia. Além disso, é preciso também a repressão aplicando as infrações aos que não seguem as normas de trânsito”, avaliou.
Ao longo do ano, várias ações educativas têm sido promovidas no sentido de chamar a atenção dos condutores, especialmente em datas comemorativas, quando o tráfego nas estradas costuma aumentar, especialmente como Natal e Réveillon.
“Esta prevenção, principalmente com ações educativas que chamem atenção das pessoas para essa questão, faz parte sim do papel do Estado, mas não só dele. É preciso que se construa uma conscientização maior sobre o assunto para evitar acidentes de trânsito, porque a vida não tem preço. Existe por traz disso um custo social da mãe que perde o filho, do filho que perde os pais e diante disso, os custos financeiros ficam pequenos”, diz o secretário.
Prevenção envolve todas as esferas de governo e inclui ações em períodos de maior movimento nas estradas
Para reduzir a violência no trânsito, este ano, o governo federal lançou a Operação Rodovida, que inclui ações em períodos festivos, como Natal e Ano Novo, quando o fluxo de veículos nas estradas costuma aumentar. O trabalho integra órgãos federais, como o Ministério da Saúde, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Ministério da Infraestrutura, em articulação com estados e municípios.
O ministério também desenvolve o Projeto Vida no Trânsito há cerca de nove anos, que consiste em uma ação nos pontos com maiores problemas, principalmente no que se refere a mistura de “álcool e direção” e à velocidade excessiva e/ou inadequada. O projeto é realizado em parceria com municípios e ressalta a importância da articulação do setor saúde com o trânsito no cumprimento do Código de Trânsito Brasileiro nos componentes da vigilância (informação qualificada, monitoramento das lesões e mortes e fatores de risco), prevenção e cuidado pré-hospitalar, hospitalar e de reabilitação ofertado às vítimas.