Foto: SERGIO ZALIS / TV Globo
Por Nelson Gobbi, O GLOBO
RIO – No dia 1º de setembro de 1969, a gasolina subiu para 39 centavos de cruzeiros novos, enquanto dois acontecimentos da véspera atraíam as atenções. Lá fora, o mundo lamentava a morte do pugilista americano Rocky Marciano, que viria a inspirar o Rocky Balboa de Sylvester Stallone anos mais tarde. Por aqui, o brasileiro festejava a vaga na Copa do México, conquistada com um gol de Pelé sobre o Paraguai, diante de um Maracanã entupido de 183 mil pessoas.
Naquela segunda-feira, às 19h45, Hilton Gomes e Cid Moreira apresentaram o primeiro programa de TV exibido em rede para todo o país. Era a estreia do “Jornal Nacional”, gerado do Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, quatro anos após a criação da Globo.

Antes de apresentar as notícias, Hilton Gomes (1924-1999) anunciou: “O ‘Jornal Nacional’ da Rede Globo, um serviço de notícias integrando o Brasil novo, inaugura-se neste momento: imagem e som de todo o Brasil”. A integração era resultado da primeira rede básica de transmissão por microondas do país, lançada meses antes pela Embratel.
— Desde a década de 1950, Roberto Marinho sonhava em construir uma rede de televisão que unisse o país levando informação e entretenimento de qualidade aos brasileiros — diz João Roberto Marinho, presidente do Conselho Editorial do Grupo Globo. — Em 1965, inaugurou a TV Globo e, em 1969, conseguiu formar uma rede com o “Jornal Nacional”. Desde então, o “JN” é motivo de orgulho para todos nós pela qualidade do trabalho de uma equipe enorme que produz um jornalismo isento e independente. E de uma enorme satisfação pela preferência da maioria dos brasileiros.

Além do alcance nacional, o “JN” entrou no ar de um jeitão diferente. Seu maior concorrente, o “Repórter Esso”, da Tupi, deixava a principal notícia para o fim. No novo noticiário, ela passou a vir na frente. E foi assim já naquele 1º de setembro, que começou com o estado de saúde do presidente Costa e Silva, vitimado por uma trombose cerebral, e sua substituição por uma junta militar, que governaria o país por dois meses. Ao fim do noticiário, entrava o “boa noite” que virou um clássico. Cid Moreira, hoje com 91 anos, repetiu a saudação cerca de 8 mil vezes desde 1969 até deixar o programa, em 1996.

Líder de audiência
Idealizado por Armando Nogueira (1927-2010), então diretor de Jornalismo da Globo, o “JN” criava, assim, um modelo que passaria a ser seguido na emissora e fora dela.
— O “Jornal Nacional” é líder absoluto de audiência porque soube acompanhar, ao longo dos anos, todas as revoluções tecnológicas — diz o diretor-geral de Jornalismo da Globo, Ali Kamel. — Hoje, na era digital, os brasileiros recebem informações de todos os lados: de sites de jornais, em notificações de celulares, em redes sociais, numa conversa com amigos, ouvindo o rádio enquanto vão ao trabalho, e grande parte das pessoas nem sempre tem tempo de parar ao longo do dia para se aprofundar, embora haja boa oferta de grande qualidade. O papel que o “JN” assumiu nestes anos foi reunir essas informações dispersas e contextualizá-las, com início, meio e fim. É por esse motivo que os brasileiros param diante do “JN”: porque aquilo que, para muitos estava disperso, se encaixa como num quebra-cabeça. A missão que o “JN” se dá hoje é essa. E com resultado. A audiência, sem igual no mundo, mostra isso.
Da Revolução dos Cravos (1974), à morte de Tancredo Neves (1985), da visita do Papa João Paulo II (1980) à queda do Muro de Berlim (1989), do 11 de Setembro de 2001 ao rompimento da barragem de Brumadinho, em janeiro deste ano, a trajetória do jornal está sendo revista agora em “JN — 50 anos de telejornalismo” (Globo Livros).
Novidades no ar neste sábado
Terceiro livro sobre o telejornal, a publicação, de 458 páginas, resgata a história do programa, a partir de textos de profissionais que ajudaram a construir sua trajetória e depoimentos cedidos ao projeto Memória Globo. O livro também esmiúça o processo de criação do jornal, do relatório preparado pela produção, às 7h da manhã, ao momento em que ele vai ao ar.
A partir de amanhã, aliás, ele vai ao ar diferente. Apresentadores das afiliadas da emissora assumem a bancada como convidados. Será um rodízio, sempre aos sábados. Começa já neste, com Márcio Bonfim (PE) e Cristina Ranzolin (RS), e vai até 30 de novembro.
Já na segunda-feira (2) estreia uma série dentro do “Jornal Nacional” com cinco episódios sobre os temas “relações com o outro”, “educação”, “cidades”, “trabalho” e “saúde” e de que forma eles foram levados ao espectador.
Confira um pouco da evolução do Jornal Nacional com a cronologia de todas as vinhetas de abertura desde o ano de 1969, feito pelo Canal F.A Miranda: